Você precisa desenvolver soft skills. E não, isso não é uma opção.

Dia desses gravando um videocast da K21 sobre esse tema, um dos meus colegas que estava na gravação, Rodrigo Toledo, trouxe um ponto de reflexão bem interessante (e talvez um tanto filosófico também) sobre o que são as soft skills. Era mais ou menos assim, resgatando a analogia de hardware x software e hard skill vs. soft skill: 

O que são as soft skills?

“o hardware é só a máquina; o software é a alma do computador – sem software, a máquina não é nada. Se a gente traz essa mesma interpretação para a gente e só considera o hard skill, sem o soft skill, é como se a gente fosse um indivíduo sem alma. Uma organização que menospreza o soft skill corre o risco de ficar robótica e sem alma”.

Rodrigo de Toledo

Embora o conceito de soft skill seja amplamente explorado há um tempo, gostei muito dessa forma de olhar para isso, porque diz muito sobre como deveríamos estar olhando para o nosso desenvolvimento individual, mas também para o desenvolvimento organizacional. Para continuarmos sendo autênticos, originais, criativos, relevantes e competitivos, precisamos de mais do que máquinas funcionando muito bem na totalidade de sua capacidade técnica; precisamos de energia, elasticidade, curiosidade, aprendizado constante, melhoria contínua e autoconhecimento. Enfim, precisamos de uma boa dose de “alma” nesse processo.

Então sim, você precisa desenvolver soft skills e não, isso não é uma opção se você quiser se manter vivo, atualizado e pronto para enfrentar o imprevisível à nossa frente, que é o que esse mercado de trabalho altamente dinâmico oferece. Vale ressaltar que o desenvolvimento é contínuo, e não transacional, ou seja, devemos nos conhecer cada vez melhor, olhar para nossas habilidades interpessoais e estarmos atentos a elas. Melhorarmos nesse sentido é uma jornada de vida, um verdadeiro lifelong learning (aprendizado durante a vida toda).

Reskilling

Há alguns anos pesquisas vêm nos mostrando que, para se adaptar às novas necessidades de mercado, tanto as pessoas quanto as organizações irão precisar investir em reskilling“, o que significa adquirir novas habilidades. 

Em 2020, o relatório “Future of Jobs” do World Economic Forum (Fórum Econômico Mundial), já destacava que até 2025, 50% dos funcionários precisarão de reskilling à medida que a automação e a inteligência artificial se tornarem cada vez mais presentes em diversos setores. Já a edição do relatório de 2023 ressaltou que 44% das “habilidades-chave” dos profissionais de hoje em dia também vão mudar nos próximos 5 anos. E aqui estamos nós, em 2024, batendo na porta dessa previsão, vivendo e experimentando intensamente essa relação humanos-robôs, tentando ainda entender como vamos tirar o melhor proveito disso tudo e encontrando milhares de oportunidades de desenvolver essas novas habilidades todos os dias.

As habilidades de pensamento crítico e analítico, criatividade, o trio resiliência – flexibilidade – agilidade, empatia, escuta ativa e aprendizado contínuo compõem a lista das competências comportamentais que acredita-se serem essenciais para desenvolvermos atualmente. Quando olhamos a lista, fica absolutamente claro que, das 10 habilidades listadas, 8 (80%) são humanas e comportamentais. Ou seja, coisas que nós ou sabemos fazer ou conseguimos desenvolver – puro soft skill.

Dados do Fórum Econômico Mundial sobre  as soft skills. Explicação está ao longo do texto
Top 10 habilidades de 2023 segundo o Fórum Econômico Mundial

Traduzindo o quadro: Top 10 habilidades de 2023: 1. Pensamento analítico; 2. Pensamento criativo; 3. Resiliência, flexibilidade e agilidade; 4. Motivação e autoconhecimento; 5. Curiosidade e aprendizado durante a vida toda; 6. Alfabetização tecnológica; 7. Confiabilidade e atenção aos detalhes;  8. Empatia e escuta ativa ; 9. Liderança e influência social; e 10. Controle de qualidade. 

Essas habilidades estão categorizadas em: Habilidades cognitivas (1 e 2); Autoeficácia (3, 4, 5 e 7); Habilidades de gestão (10); Habilidades de tecnologia (6); e Trabalho com outros (8 e 9).

Soft skills já são essenciais

E até 2027, aproximadamente, a expectativa é de se observar cada vez mais a necessidade de habilidades como letramento tecnológico, curiosidade, aprendizado ativo e contínuo e automotivação como fundamentais para enfrentar os desafios de um ambiente de em constante transformação.

Dados do Fórum Econômico Mundial sobre as soft skills. Explicação está ao longo do texto
Top 10 habilidades em crescimento segundo o Fórum Econômico Mundial

Traduzindo o quadro: Top 10 habilidades de 2023: 1. Pensamento criativo; 2. Pensamento analítico; 3. Alfabetização tecnológica; 4. Curiosidade e aprendizado durante a vida toda; 5. Resiliência, flexibilidade e agilidade; 6. Pensamento sistêmico; 7. Inteligência Artificial (IA) e big data (grandes dados); 8. Motivação e autoconhecimento; 9. Gestão de talento; e 10. Orientação a serviço e atendimento ao consumidor.

Essas habilidades agora estão categorizadas em: Habilidades cognitivas(1 e 2); Autoeficácia (4, 5 e 8); Habilidades de gestão (9); Habilidades de tecnologia (3 e 7); Trabalho com outros (6) e Habilidades de engajamento (10)

Por que investir nas soft skills?

Investir no desenvolvimento de soft skills significa investir na capacidade de adaptação não apenas individual, mas também organizacional. Em um mundo onde a tecnologia, a automação e a IA estão mudando cada vez mais a natureza do trabalho, as habilidades técnicas podem cair num lugar muito temporário, enquanto as habilidades interpessoais são bem mais perenes e insubstituíveis pelos robôs. Além disso, as soft skills que contribuem para um ambiente de trabalho saudável, produtivo e colaborativo se tornam essenciais e, como consequência, impulsionam melhores resultados nos negócios. 

Entretanto, embora a necessidade de reskilling seja evidente, ainda há um déficit na oferta de oportunidades de treinamento e capacitação no Brasil. Em artigo publicado recentemente pela Forbes, nos deparamos com um dado comparativo interessante entre EUA e Brasil com relação ao montante de investimento em T&D por parte das empresas: enquanto nos EUA o investimento corresponde, em média, a 4,62% sobre a folha de pagamento anual dos colaboradores, no Brasil esse investimento despenca em mais de 50%: em média 2,11%. Além disso, a matéria também menciona o tempo investido em capacitação e desenvolvimento: 23h por colaborador e por ano no Brasil, contra 33h nos EUA. Quer dizer, são 40% a mais de tempo dedicado pelos colaboradores para se desenvolverem enquanto profissionais em suas carreiras. Isso é bastante expressivo. 

Esses dados só destacam a urgência das empresas investirem em programas de desenvolvimento de habilidades, tanto internamente a partir de iniciativas de troca de conhecimento e experiência entre as pessoas, quanto por meio de plataformas de aprendizagem online e parceiros externos. Uma empresa que inova, que cria, que foca no cliente, que atende suas necessidades e, claro, gera resultados, precisa ser uma empresa que também investe no desenvolvimento de seus colaboradores, porque no final do dia, são as pessoas que vão entregar tudo isso, certo?

Se você ainda tem dúvidas sobre investir ou não em desenvolver suas habilidades interpessoais e humanas, como pessoa ou como empresa, vamos pensar que desenvolver soft skills não é apenas uma necessidade, mas uma estratégia inteligente para garantir a relevância e a competitividade num mercado de trabalho em constante mudança. À medida que enfrentamos as transformações trazidas pela revolução tecnológica, o desenvolvimento contínuo de habilidades, principalmente as interpessoais, se torna essencial para o sucesso individual e organizacional. 

A tecnologia é maravilhosa – mas nenhuma IA, nenhuma automação, nenhuma super habilidade técnica resolve o problema sozinha. Tem que ter alma por trás de tudo isso. 

Deixo vocês com essa reflexão final de Alvin Toffler, escritor e estudioso de inovação e futurismo, que há um bom tempo já dizia: 

Alvin Toffler (1928-2016) um homem branco, cabelos grisalhos começando na metade da cabeça, vestindo uma camisa social branca e um paletó preto, ele está sentado com uma mão sobre a mesa, mostrando uma aliança no dedo e um relógio no pulso. A outra mão está apoiando seu queixo. Ao lado está sua frase: “O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender, e reaprender”.

Se o mundo muda a todo tempo, só nos resta aprender, desaprender e reaprender o tempo todo

Gostou desse conteúdo, dá uma olhada nos nossos treinamentos e trilhas de aprendizado.

Fernanda Magalhães, Agile Expert e Trainer na K21

Sobre o autor(a)

Agile Expert e Trainer na K21 e Nower

Atravessei o portal da agilidade em 2011. Do lado de cá, eu olhava pro lado de lá, e me questionava porque não estávamos todos juntos nesse novo mundo que estava logo ali! Desde então, comecei a me dedicar, estudar, experimentar e a ajudar as pessoas a fazer a travessia, pouco a pouco. Porque do lado de cá tem uma energia única, alguma mágica acontece. E eu não podia guardar isso só pra mim. E aí, bora atravessar?

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