Em era de Inteligência Artificial saber fazer boas perguntas torna-se mais que essencial

Uma das principais habilidades que desenvolvemos enquanto consultores é a de fazer boas perguntas. Uma vez que as pessoas percebem o poder que tem uma boa pergunta, colocada ali na hora certa e que muda o destino de uma reunião, para muitos, fica evidente a necessidade e urgência de desenvolver essa habilidade.

O grande desafio, é que não fomos treinados para isso. Desde os tempos de escola, fomos ensinados a não questionar. Paulo Freire usava a expressão “Educação bancária” para descrever a Educação no Brasil, na qual o Educador “deposita” a informação no outro, não abrindo espaço para o diálogo e questionamento, e como consequência perdemos a riqueza do diálogo e de tornar os alunos também parte das soluções desenvolvendo o pensamento crítico.

Somado a isso, com o avanço da inteligência artificial estamos vivenciando uma grande mudança no mundo, passando de um cenário onde ter todas as respostas era crucial, para um novo, no qual saber fazer perguntas (os ditos “prompts) são. O grande diferencial não é mais o acesso à informação mas a habilidade de elaborar perguntas inteligentes.

Diante deste contexto, quero trazer aqui um pouco do que tenho acompanhado sobre o tema para começarmos a criar o que seria o início de um repertório de boas perguntas que, quando bem colocadas, podem fazer a diferença para abrir portas que normalmente ficariam fechadas. Bora lá?

A Inteligência Artificial e a Intencionalidade

O primeiro passo, é ter intencionalidade.  Não é sobre fazer um monte de perguntas e esperar que uma delas funcione. Precisamos refletir o que queremos aprender, descobrir ou direcionar com cada interação?  Se você tem uma hora de reunião você vai querer aproveitar o máximo desse tempo sendo efetivo nas perguntas, afinal fazer uma pergunta implica em deixar de fazer outra. Por isso, a preparação é fundamental na arte de fazer perguntas.

Um dos conteúdos mais interessantes que li sobre o tema, foi um framework de Arnaud Chevallier, Frédéric Dalsace, e Jean-Louis Barsoux na Harvard Business Review (The Art of Asking Smarter Questions) que divide os tipos de perguntas em 5 grupos, são eles: perguntas investigativas, especulativas, produtivas, interpretativas, e subjetivas. 

Cada grupo tem sua função na comunicação e destrava um aspecto diferente no processo de tomada de decisão. 

Perguntas Investigativas

Quando você está diante de um problema ou oportunidade, tomadores de decisões efetivas costumam começar explorando o propósito que estão buscando. O que querem conquistar ou alcançar e então o que precisam aprender para fazer com que isso aconteça. 

Perguntas investigativas aprofundam as discussões e geram novas informações. O maior erro, porém, costuma ser quando ficamos na camada da primeira pergunta e falhamos em investigar profundo o suficiente. Raramente a primeira resposta é a mais importante, o problema costuma morar nas camadas mais profundas da discussão. 

Exemplos:

  • O que aconteceu?
  • O que está e o que não está funcionando?
  • Quais são as causas do problema?
  • O quanto é viável e desejável cada uma das opções?
  • Qual evidência suporta o plano proposto?

Perguntas Especulativas

Enquanto as perguntas investigativas aprofundam, às perguntas especulativas trazem novas possibilidades e perspectivas.. Elas nos ajudam a ter uma perspectiva mais ampla.  Para refinar um problema ou solução os líderes podem perguntar: E se? O que mais? Como podemos? Pode ser uma estratégia ótima para evitar conclusões precipitadas e ir direto para a solução quando ainda precisamos explorar mais o problema ou oportunidade.

  • Que outros cenários podem existir?
  • Como podemos fazer diferente?
  •  O que mais nós podemos propor?
  •  O que podemos simplificar, combinar, modificar, inverter ou eliminar?
  •  Quais outras soluções em potencial nós não consideramos?

Perguntas Produtivas

Esse tipo de pergunta nos ajuda a avaliar a quantidade de talentos, capacidade, tempo e recursos disponíveis. Elas aceleram a velocidade da tomada de decisão, introduzem iniciativas e ditam o ritmo de crescimento. Perguntas produtivas podem trazer à tona os riscos, distorções e a capacidade da organização.

  • Qual é o próximo passo?
  • O que precisamos alcançar antes de fazer isso?
  • Nós temos os recursos necessários para nos mover adiante?
  • Sabemos o suficiente para avançar?
  • Como podemos sincronizar nossos esforços? 
  • Como mediremos progresso?
  • Estamos prontos para decidir?

Perguntas interpretativas

Esse tipo de pergunta ajuda na síntese. Elas nos ajudam a ter mais clareza sobre o que realmente está sendo dito e o que é de fato importante.  

Perguntas como: sobre o que é exatamente esse problema? O que acontece se essa tendência se mantiver? Podem ser usadas inclusive após uma pergunta especulativa – Que oportunidades essa ideia nos traz? ou produtiva E o que isso implica em termos de escalabilidade ou sequenciamento?.  

Perguntas que enfatizam aprendizado também moram nessa categoria. Exemplo: Como isso foi útil? Porque isso importa? Como isso se alinha com o nosso objetivo?

Todo processo de tomada de decisão deveria passar por um momento de dar significado às suas experiências coletivas. Estes momentos propiciam uma parada técnica necessária para sair do modo de inquisitivo para um modo de conversão e convergência das informações em insights acionáveis. 

  • O que aprendemos com essa nova informação?
  • O que isso significa para nossas ações atuais e futuras?
  • Qual deveria ser nosso alvo geral?
  • Como isso se encaixa com a nossa meta/objetivo?
  • O que estamos tentando alcançar?

Perguntas Subjetivas

Essa categoria final de perguntas se diferencia de todas as outras. Enquanto as demais lidam com o desafio, essa lida com as frustrações pessoais, as tensões e as agendas ocultas que podem atrapalhar o processo decisório.  

Se você negligenciar esse tipo de pergunta sua solução ficará incompleta mesmo depois de análises,insights e planejamento. Aqui o papel da liderança é fundamental, pois o time pode relutar num primeiro momento a menos que a liderança reforce a importância de um espaço seguro para esse tipo de discussão. Incentivar visões diferentes e que as pessoas tirem suas dúvidas é fundamental.

  • Como você se sente em relação a essa decisão?
  • Existem diferenças entre o que foi dito, ouvido e significado? 
  • Estamos consultando as melhores pessoas? 
  • Os principais interessados estão alinhados?

Conclusão

Agora que você já conhece cada tipo de pergunta e suas aplicações, ao usá-las o importante é variar o mix e expandir o repertório. 

Qual é o tipo de pergunta que você mais faz? 

Qual você precisa investir mais em fazer? Porque?

Ajuste o seu repertório conforme a necessidade e cerque-se de pessoas que podem compensar seus pontos cegos. 

Uma técnica extra que pode ajudar tanto a responder quanto a fazer boas perguntas é:  logo após momentos de conversa tentar responder:

  • Que perguntas foram feitas durante essa conversa?
  • Que intenções eu ou a pessoa tinha ao fazer cada pergunta?
  • Como essas perguntas afetaram as interações? Você acredita que tiveram o efeito desejado?
  •  Que mudanças eu teria feito nas perguntas para melhorá-las?

E por fim treine! Só a experiência e a vivência vão aperfeiçoar essa habilidade.

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Sobre o autor(a)

Product e Agile Expert na K21

Agilista no ramo do varejo há mais de 7 anos, sua experiência concentra-se principalmente no desenvolvimento de produtos. Apaixonada por ensino e aprendizado; Fernanda acredita na agilidade como meio para transformação de pessoas e organizações.

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