Data storytelling. Se você acompanha o nosso blog, já deve ter percebido que eu gosto muito de trabalhar com métricas, dados e gráficos. É interessante, mas esses artefatos, apesar de serem interessantes, sozinhos eles não vão dizer muitas coisas. Você precisa contar uma história para que eles se tornem relevantes.
Vou escrever aqui alguns pontos que acredito serem relevantes para um bom data storytelling (Contação de História com Dados).
Qual a história você quer contar?
Hoje temos muitíssimas formas de construir visualização de dados. Ferramentas de planilhas, ferramentas de apresentação, vídeos, Inteligência Artificial etc. Entretanto, sozinhas elas não vão contar a história que você quer. Na verdade, antes de começar a preparar dezenas de gráficos e tabelas, as primeiras coisas que você tem que pensar são:
- Qual o objetivo da sua apresentação?
- Quais pontos essenciais devem ser resultados?
- Quem é o seu público-alvo?
Perceba que essas respostas mudam toda a sua apresentação. Por exemplo, se eu quero mostrar para o C-Level (diretoria) qual o nosso market share (fatia do mercado), um gráfico de barras nos comparando com os concorrentes poderá ser eficiente.
Já se o objetivo for mostrar para um grupo de gestores uma queda de vendas, um gráfico de linhas é mais apropriado. Um time que está tentando entender problemas em um fluxo de trabalho um CFD – Cumulative Flow Diagram (Diagrama de Fluxo Cumulativo) será uma boa opção.
Fato: se você não sabe qual história contar, as ferramentas serão irrelevantes.
Efeito pah! vs. Efeito Uau! no Data Storytelling
Muitas pessoas quando apresentam uma história, gostam do Efeito Uau! Ele funciona assim: você apresenta uma série de tabelas, duzentos gráficos, um monte de informações e no final você traz aquele slide matador para os espectadores fazerem aquele uuuuuaaaaaauuuuu!
É muito bonito, mas na prática pouquíssimas pessoas têm o dom de contar histórias tão impactantes a ponto de deixarem todos os ouvintes hipnotizados até o momento do Uau! No geral, os ouvintes dormem, mexem no celular, saem, abrem notebook e quando chega no momento “Uau!” não tem mais ninguém prestando atenção.
O efeito Pah! É uma pancada. Você começa com a informação mais relevante primeiro para capturar a atenção do público.
Por exemplo, se estamos tendo um problema de churn (perda de clientes), sugiro começar com essa informação. Primeiros slides, topo do relatório, título do gráfico, nome da tabela. Depois você pode detalhar o que está acontecendo.
Apresentação (como fazer o Data Storytelling)
Os martelos são muito úteis para pregos, mas não são adequados para parafusos. Igualmente o formato que utilizamos deve ser diferente para cada tipo de problema.
Tabelas
No geral não são muito boas para apresentações para grandes públicos. Tabelas costumam ser úteis para detalhamentos e análises. Caso queira utilizar em apresentações, elas são boas para comparações de poucos itens (linhas e colunas)
Essa imagem apresenta o desempenho de quatro serviços por assinatura de uma empresa comparando quantos novos clientes chegaram no último trimestre (aquisição) e quantos clientes cancelaram o serviço no último trimestre (churn).
Pontos importantes nesta tabela:
- Título que auxilia a contar a história ao invés de descrever a tabela
- Poucas linhas e poucas colunas
- Vermelha indicando um problema
- Uma coluna que facilita a comparação entre grandezas diferentes (Taxa de Retenção Líquida)
Gráfico de barras
São gráficos que comparam magnitudes entre 2 ou mais itens. É uma comparação estática, como uma foto tirada em um determinado momento.
É o gráfico de barras que descreve a tabela apresentada anteriormente.
Pontos importantes neste gráfico:
- Título que auxilia a contar a história ao invés de descrever o gráfico
- Cor vermelha representando a perda de clientes (negativa)
- Cor verde representando a aquisição de clientes (positivo)
- Destaque para as barras que representam o problema e ajudam o público a focar onde queremos
Gráfico de Linhas
Esses contam uma história mais completa. O Eixo Y é a história que você quer contar. O Eixo X é o período em que a história se passa e as linhas são os personagens. São tipicamente gráficos que compraram itens ao longo do tempo.
Este gráfico conta a história do serviço problemático. Ela demonstra que houve um bom período, mas ao longo do tempo houve uma piora. Em abril de 2024 ele cruzou o Ponto da Insustentabilidade (perde mais clientes do que é capaz de ganhar).
Pontos importantes neste gráfico:
- Título que auxilia a contar a história em vez de descrever o gráfico
- Cor vermelha representando a perda de clientes (negativa)
- Cor verde representando a aquisição de clientes (positivo)
- Ponto crítico detalhado
- Não há legenda para os meses, já que é uma informação de fácil conclusão (menos é mais)
Gráfico de área
É uma derivação do gráfico de linhas, porém com a área abaixo da linha preenchida. A grande diferença é que ele enfatiza o volume da área (protagonista) ao invés da linha (coadjuvante). É útil para enfatizar o volume total ou as mudanças acumuladas ao longo do tempo. Ele funciona muito melhor quando não há cruzamentos entre as linhas, pois quando acontecem, os gráficos ficam um tanto confusos.
Esse é um CFD mostrando a quantidade de itens em cada etapa do fluxo de valor por um time. Ele apresenta um “gargalo” na etapa de Construção que é descrito como padrão Boca de Jacaré. O CFD é um exemplo de gráfico que funciona bem com um time que utiliza métodos ágeis como o Scrum e Kanban. Todavia, ele não faz um bom data storytelling com gestores e diretores.
Pontos importantes neste gráfico:
- Título que auxilia a contar a história em vez de descrever o gráfico
- Cor vermelha vibrante indicando onde está o problema.
- Tons pasteis para as outras áreas para não chamar a atenção
- Pontos marcados no gráfico que ajudam a pessoa a olhar para onde queremos a atenção dela.
- A progressão no tempo e a progressão das marcações do WIP ajudam a contar a história.
Gráfico de dispersão (scatter plot)
Ele é ideal para visualizar a relação entre duas variáveis quantitativas. Ajuda a identificar correlações, padrões ou outliers (valores atípicos).
Este é um gráfico de dispersão de lead time. Ele apresenta as diversas entregas de um time ao longo do mês de outubro e início de novembro de 2024. Vemos que há 3 linhas cada uma simbolizando um percentil: 50 (mediana) na cor verde, 85 na cor amarela e 95 na cor vermelha. Verificamos que temos um problema, pois há um aumento do tempo de entrega nos últimos 3 itens entregues.
Pontos importantes neste gráfico:
- Título que auxilia a contar a história em vez de descrever o gráfico
- Semáforo (verde, amarelo, vermelho) para cada percentil indicando respectivamente, tudo bem, alerta e perigo.
- Outliers inferior e superiores pintados em cores diferentes.
Gráfico de Bolhas
É uma extensão do Gráfico de Distribuição, porém inclui uma terceira dimensão que é o tamanho do ponto marcado no gráfico.
É um gráfico de bolhas que acrescenta o eixo de Complexidade definida pelo time no gráfico (tamanho da bolha). Além de manter as informações do Eixo X (Data da entrega) e do Eixo Y (quantidade de dias).
Pontos importantes neste gráfico:
- Título que auxilia a contar a história em vez de descrever o gráfico
- Informação tridimensional
Gráfico de radar ou gráfico de teia
Usado para visualizar dados multivariados em um formato que destaca múltiplas variáveis de forma radial. É ideal para comparações de valores em diferentes categorias.
Esse gráfico apresenta um Radar da Satisfação que é como um time se enxerga. É uma média de pontos de 1 até 5 atribuída pelo próprio time e distribuída em seis categorias: Comunicação, Colaboração, Resolução de Problemas, Entendimento de Requisitos, Ferramentas Ágeis e Adaptabilidade. Além disso, ele mostra que esse time realizou essa dinâmica a cada trimestre. Cada área de trimestre representa se o time está evoluindo ou regredindo em cada categoria.
Pontos importantes neste gráfico:
- Título que auxilia a contar a história em vez de descrever o gráfico
- Poucas categorias
- Escala exata de números possíveis (entre 1 e 5).
- Escala curta (máximo igual a 5)
Apenas um número
É isso mesmo. Muitas das vezes precisamos apenas de um número e um textinho para contar uma belíssima história.
Pontos importantes neste número:
- Chama a atenção
- Menos é mais
- Você entende o que aconteceu.
Conclusão de Data Storytelling por enquanto
Você pode contar muitas histórias com os seus dados. Defina para quem você quer contar a história, porque você quer contá-la e como contá-la. Construa uma narrativa além dos dados e apresente.
É um tema que eu gosto bastante e pretendo escrever outros textos sobre isso. Acompanhe aqui no nosso blog para mais informações. Se quiser ir se adiantando, recomendo a leitura do livro da Cole Nussbaumer Knaflic, Storytelling com Dados: um Guia Sobre Visualização de Dados Para Profissionais de Negócios.
Abiro neno machiegni