Data Storytelling: Contando uma história com os dados

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Data storytelling. Se você acompanha o nosso blog, já deve ter percebido que eu gosto muito de trabalhar com métricas, dados e gráficos. É interessante, mas esses artefatos, apesar de serem interessantes, sozinhos eles não vão dizer muitas coisas. Você precisa contar uma história para que eles se tornem relevantes. 

Vou escrever aqui alguns pontos que acredito serem relevantes para um bom data storytelling (Contação de História com Dados).

Qual a história você quer contar? 

Hoje temos muitíssimas formas de construir visualização de dados. Ferramentas de planilhas, ferramentas de apresentação, vídeos, Inteligência Artificial etc. Entretanto, sozinhas elas não vão contar a história que você quer. Na verdade, antes de começar a preparar dezenas de gráficos e tabelas, as primeiras coisas que você tem que pensar são:

  1. Qual o objetivo da sua apresentação? 
  2. Quais pontos essenciais devem ser resultados?
  3. Quem é o seu público-alvo?

Perceba que essas respostas mudam toda a sua apresentação. Por exemplo, se eu quero mostrar para o C-Level (diretoria) qual o nosso market share (fatia do mercado), um gráfico de barras nos comparando com os concorrentes poderá ser eficiente. 

Já se o objetivo for mostrar para um grupo de gestores uma queda de vendas, um gráfico de linhas é mais apropriado. Um time que está tentando entender problemas em um fluxo de trabalho um CFD – Cumulative Flow Diagram (Diagrama de Fluxo Cumulativo) será uma boa opção.

Fato: se você não sabe qual história contar, as ferramentas serão irrelevantes. 

Efeito pah! vs. Efeito Uau! no Data Storytelling

Muitas pessoas quando apresentam uma história, gostam do Efeito Uau! Ele funciona assim: você apresenta uma série de tabelas, duzentos gráficos, um monte de informações e no final você traz aquele slide matador para os espectadores fazerem aquele uuuuuaaaaaauuuuu!

É muito bonito, mas na prática pouquíssimas pessoas têm o dom de contar histórias tão impactantes a ponto de deixarem todos os ouvintes hipnotizados até o momento do Uau! No geral, os ouvintes dormem, mexem no celular, saem, abrem notebook e quando chega no momento “Uau!” não tem mais ninguém prestando atenção.

O efeito Pah! É uma pancada. Você começa com a informação mais relevante primeiro para capturar a atenção do público. 

Por exemplo, se estamos tendo um problema de churn (perda de clientes), sugiro começar com essa informação. Primeiros slides, topo do relatório, título do gráfico, nome da tabela. Depois você pode detalhar o que está acontecendo. 

Apresentação (como fazer o Data Storytelling)

Os martelos são muito úteis para pregos, mas não são adequados para parafusos. Igualmente o formato que utilizamos deve ser diferente para cada tipo de problema. 

Tabelas 

No geral não são muito boas para apresentações para grandes públicos. Tabelas costumam ser úteis para detalhamentos e análises. Caso queira utilizar em apresentações, elas são boas para comparações de poucos itens (linhas e colunas)

Uma tabela com o título: Estamos com problemas no Barney para fazer o data storytelling do problema com o Barney. A explicação está ao longo do texto

Essa imagem apresenta o desempenho de quatro serviços por assinatura de uma empresa comparando quantos novos clientes chegaram no último trimestre (aquisição) e quantos clientes cancelaram o serviço no último trimestre (churn). 

Pontos importantes nesta tabela: 

  • Título que auxilia a contar a história ao invés de descrever a tabela
  • Poucas linhas e poucas colunas
  • Vermelha indicando um problema
  • Uma coluna que facilita a comparação entre grandezas diferentes (Taxa de Retenção Líquida)

Gráfico de barras

São gráficos que comparam magnitudes entre 2 ou mais itens. É uma comparação estática, como uma foto tirada em um determinado momento. 

Data storytelling com um gráfico de barras intitulado "Estamos com problemas no Barney". Este gráfico compara a quantidade de aquisições e churn por produto no trimestre, com Fúria, Glória, Barney e Sentinela como categorias. Fúria: Mostra cerca de 45 aquisições e 10 churn, indicando uma retenção relativamente saudável. Glória: Apresenta o melhor desempenho, com aproximadamente 58 aquisições e apenas 4 churn, evidenciando uma retenção excelente. Barney: Destaca-se negativamente, com cerca de 23 aquisições, mas 38 churn, representando um alto nível de perda de clientes e uma retenção líquida negativa. Sentinela: Registra 38 aquisições e 12 churn, demonstrando uma retenção moderada, embora abaixo dos demais produtos (exceto Barney). O gráfico evidencia o problema grave de churn do produto Barney, que possui mais cancelamentos do que aquisições, contrastando com o desempenho positivo dos outros produtos.

É o gráfico de barras que descreve a tabela apresentada anteriormente. 

Pontos importantes neste gráfico: 

  • Título que auxilia a contar a história ao invés de descrever o gráfico
  • Cor vermelha representando a perda de clientes (negativa) 
  • Cor verde representando a aquisição de clientes (positivo)
  • Destaque para as barras que representam o problema e ajudam o público a focar onde queremos

Gráfico de Linhas 

Esses contam uma história mais completa. O Eixo Y é a história que você quer contar. O Eixo X é o período em que a história se passa e as linhas são os personagens. São tipicamente gráficos que compraram itens ao longo do tempo. 

Data storytelling com um gráfico de linhas intitulado "Barney cruzou o ponto de insustentabilidade". O gráfico exibe a quantidade de aquisições e churn do produto Barney ao longo dos meses, de janeiro de 2023 até setembro de 2024. Aquisição (linha verde): A quantidade de clientes adquiridos por mês apresenta variações, com uma leve tendência de crescimento até o início de 2024, seguida por uma queda gradual. Churn (linha vermelha): O churn começa baixo, mas mostra um aumento constante e acentuado ao longo do período, eventualmente ultrapassando as aquisições. O ponto de insustentabilidade, destacado no gráfico, ocorre entre março e abril de 2024, onde o churn supera as aquisições. Esse cruzamento indica uma situação preocupante para o produto Barney, pois o número de clientes perdidos mensalmente começou a exceder o número de novos clientes, sinalizando a necessidade de ações corretivas para estabilizar a retenção de clientes.

Este gráfico conta a história do serviço problemático. Ela demonstra que houve um bom período, mas ao longo do tempo houve uma piora. Em abril de 2024 ele cruzou o Ponto da Insustentabilidade (perde mais clientes do que é capaz de ganhar).

Pontos importantes neste gráfico:

  • Título que auxilia a contar a história em vez de descrever o gráfico
  • Cor vermelha representando a perda de clientes (negativa) 
  • Cor verde representando a aquisição de clientes (positivo)
  • Ponto crítico detalhado
  • Não há legenda para os meses, já que é uma informação de fácil conclusão (menos é mais)

Gráfico de área

É uma derivação do gráfico de linhas, porém com a área abaixo da linha preenchida. A grande diferença é que ele enfatiza o volume da área (protagonista) ao invés da linha (coadjuvante). É útil para enfatizar o volume total ou as mudanças acumuladas ao longo do tempo. Ele funciona muito melhor quando não há cruzamentos entre as linhas, pois quando acontecem, os gráficos ficam um tanto confusos.

Data storytelling com um gráfico de áreas cumulativo intitulado "Itens engaralando em Construção". O gráfico apresenta as etapas do fluxo de trabalho de um time, incluindo Backlog, Priorizados, Construção, Avaliação, Entrega e Na Mão do Cliente, em um período de 28 de outubro a 18 de novembro de 2024. A quantidade de itens em cada etapa é representada pela área preenchida, com destaque para o aumento de itens na etapa "Construção" em vermelho. Backlog e Priorizados: Esses itens aumentam gradualmente ao longo do tempo, indicando um pipeline consistente de tarefas. Construção: A etapa mais crítica, evidenciada pela área em vermelho, que cresce rapidamente de 2 para 14 itens entre 4 e 18 de novembro, sinalizando um gargalo significativo. A concentração de trabalho nesta etapa pode indicar uma sobrecarga ou dificuldades que estão atrasando a entrega. Avaliação e Entrega: As áreas azul e amarela, que representam as etapas de Avaliação e Entrega, têm um crescimento menor, refletindo a retenção de itens na etapa anterior. Na Mão do Cliente: Com crescimento lento, esta etapa sugere que poucos itens estão efetivamente sendo concluídos e entregues. Este gráfico revela o acúmulo progressivo de trabalho na etapa de Construção, sugerindo a necessidade de intervenções para melhorar o fluxo de trabalho e evitar atrasos adicionais na entrega final.

Esse é um CFD mostrando a quantidade de itens em cada etapa do fluxo de valor por um time. Ele apresenta um “gargalo” na etapa de Construção que é descrito como padrão Boca de Jacaré. O CFD é um exemplo de gráfico que funciona bem com um time que utiliza métodos ágeis como o Scrum e Kanban. Todavia, ele não faz um bom data storytelling com gestores e diretores.

Pontos importantes neste gráfico: 

  • Título que auxilia a contar a história em vez de descrever o gráfico
  • Cor vermelha vibrante indicando onde está o problema.
  • Tons pasteis para as outras áreas para não chamar a atenção 
  • Pontos marcados no gráfico que ajudam a pessoa a olhar para onde queremos a atenção dela.
  • A progressão no tempo e a progressão das marcações do WIP ajudam a contar a história.

Gráfico de dispersão (scatter plot)

Ele é ideal para visualizar a relação entre duas variáveis quantitativas. Ajuda a identificar correlações, padrões ou outliers (valores atípicos).

Gráfico de dispersão intitulado "Aumento de Tempo que estamos levando para realizar entregas". Este gráfico mostra a quantidade de dias que cada item levou para ser entregue ao longo de outubro e início de novembro de 2024, com percentis para contextualizar o desempenho: Pontos azuis: Representam a quantidade de dias individuais que cada entrega levou. A maioria das entregas está entre 25 e 50 dias, porém algumas começam a se aproximar dos 100 dias no final do período, indicando um aumento preocupante no tempo de entrega. Percentil 50 (mediana) (linha verde): Indica o ponto central do tempo de entrega, em torno de 30 dias, sugerindo que metade das entregas leva até esse tempo. Percentil 85 (linha amarela): Marca as entregas mais longas, com cerca de 50 dias. Percentil 95 (linha vermelha): Indica as entregas que excedem significativamente a média, perto de 100 dias, evidenciando um desvio crescente. Esse gráfico mostra uma tendência de aumento no tempo de entrega, com mais pontos próximos ao percentil 95 à medida que o tempo avança, sinalizando possíveis gargalos e a necessidade de ajustes para reduzir o tempo de entrega e manter a eficiência.

Este é um gráfico de dispersão de lead time. Ele apresenta as diversas entregas de um time ao longo do mês de outubro e início de novembro de 2024. Vemos que há 3 linhas cada uma simbolizando um percentil: 50 (mediana) na cor verde, 85 na cor amarela e 95 na cor vermelha. Verificamos que temos um problema, pois há um aumento do tempo de entrega nos últimos 3 itens entregues.

Pontos importantes neste gráfico:

  • Título que auxilia a contar a história em vez de descrever o gráfico
  • Semáforo (verde, amarelo, vermelho) para cada percentil indicando respectivamente, tudo bem, alerta e perigo.
  • Outliers inferior e superiores pintados em cores diferentes.

Gráfico de Bolhas 

É uma extensão do Gráfico de Distribuição, porém inclui uma terceira dimensão que é o tamanho do ponto marcado no gráfico. 

Gráfico de bolhas intitulado "A Complexidade do item não está relacionada à quantidade de dias que levamos para entregar". Este gráfico ilustra a quantidade de dias necessários para realizar entregas, com o tamanho das bolhas representando a complexidade dos itens ao longo de outubro e início de novembro de 2024. Bolhas de diversos tamanhos: Observa-se uma variação considerável no tempo de entrega, independentemente do tamanho das bolhas, que indicam a complexidade. Itens menos complexos e mais complexos são entregues em tempos similares, variando entre 25 e 100 dias. Distribuição ao longo do tempo: A complexidade não parece afetar diretamente o tempo de entrega, sugerindo que outros fatores podem estar influenciando a duração, como recursos disponíveis ou gargalos em outras etapas. Este gráfico evidencia que a complexidade dos itens não é o principal fator que determina o tempo de entrega. A falta de correlação sugere a necessidade de revisar processos e identificar outras causas de atraso para melhorar a previsibilidade e eficiência nas entregas.

É um gráfico de bolhas que acrescenta o eixo de Complexidade definida pelo time no gráfico (tamanho da bolha). Além de manter as informações do Eixo X (Data da entrega) e do Eixo Y (quantidade de dias).

Pontos importantes neste gráfico:

  • Título que auxilia a contar a história em vez de descrever o gráfico
  • Informação tridimensional

Gráfico de radar ou gráfico de teia

Usado para visualizar dados multivariados em um formato que destaca múltiplas variáveis de forma radial. É ideal para comparações de valores em diferentes categorias.

Gráfico de radar intitulado "Como nos vemos enquanto Time". Este gráfico ilustra a percepção do time em relação a várias habilidades ao longo de três trimestres, permitindo uma análise do desenvolvimento em cada área. - **1º Trimestre** (linha azul): Pontuações baixas em Ferramentas Ágeis e Entendimento de Requisitos, mas uma percepção razoável em Comunicação e Colaboração, indicando que o time reconhece a necessidade de melhorar habilidades técnicas e de processo. - **2º Trimestre** (linha vermelha): Mostra progresso em Ferramentas Ágeis e Entendimento de Requisitos, mas ainda fica atrás em Comunicação e Colaboração. A Adaptabilidade também registra um leve aumento. - **3º Trimestre** (linha amarela): Evidencia melhorias em todas as áreas, com destaque para a Comunicação, Colaboração e Adaptabilidade, indicando um esforço contínuo de aprimoramento e maior maturidade do time nas habilidades necessárias. Este gráfico de radar reflete um crescimento progressivo do time ao longo dos trimestres, especialmente em colaboração e adaptabilidade, sugerindo que o foco em habilidades de comunicação e ferramentas ágeis trouxe benefícios visíveis para o desenvolvimento do grupo como um todo.

Esse gráfico apresenta um Radar da Satisfação que é como um time se enxerga. É uma média de pontos de 1 até 5 atribuída pelo próprio time e distribuída em seis categorias: Comunicação, Colaboração, Resolução de Problemas, Entendimento de Requisitos, Ferramentas Ágeis e Adaptabilidade. Além disso, ele mostra que esse time realizou essa dinâmica a cada trimestre. Cada área de trimestre representa se o time está evoluindo ou regredindo em cada categoria.

Pontos importantes neste gráfico: 

  • Título que auxilia a contar a história em vez de descrever o gráfico
  • Poucas categorias
  • Escala exata de números possíveis (entre 1 e 5).
  • Escala curta (máximo igual a 5)

Apenas um número

Imagem destacando "80%", seguido da descrição "redução no tempo de resposta do suporte ao cliente". Esta métrica indica uma melhoria significativa na eficiência do atendimento ao cliente, reduzindo o tempo de resposta em 80%. Esse dado enfatiza o impacto positivo de mudanças ou otimizações implementadas no processo de suporte, resultando em uma experiência mais ágil e satisfatória para os clientes.

É isso mesmo. Muitas das vezes precisamos apenas de um número e um textinho para contar uma belíssima história. 

Pontos importantes neste número: 

  • Chama a atenção
  • Menos é mais
  • Você entende o que aconteceu.

Conclusão de Data Storytelling por enquanto

Você pode contar muitas histórias com os seus dados. Defina para quem você quer contar a história, porque você quer contá-la e como contá-la. Construa uma narrativa além dos dados e apresente. 

É um tema que eu gosto bastante e pretendo escrever outros textos sobre isso. Acompanhe aqui no nosso blog para mais informações. Se quiser ir se adiantando, recomendo a leitura do livro da Cole Nussbaumer Knaflic, Storytelling com Dados: um Guia Sobre Visualização de Dados Para Profissionais de Negócios.

Abiro neno machiegni

Avelino segurando um microfone e uma camiseta preta escrita Agile. Ele é pardo, barba e cabelos grisalhos.

Sobre o autor(a)

Trainer na K21

Avelino Ferreira é formado e mestre em Ciência da Computação. Teve uma longa trajetória na TI, começando como programador e chegando a gestor de diversos times de criação de produtos digitais. Conheceu e começou a adotar as melhores prática de de Métodos Ágeis em 2008. Desde então, se dedica a auxiliar outras empresas na construção da cultura ágil. Atualmente, é Consultor e Trainer na K21

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