Chegamos à terceira e última publicação da nossa série sobre alta performance. No post desta sexta-feira, 03/11, nós vamos abordar a estrutura dos times, ou seja, como eles estão organizados.
1) Longo Prazo
Nós só conseguimos alcançar a alta performance em uma esfera de longo prazo. Aliás, esse é um dos enganos mais comuns de times jovens: achar que já chegaram lá após poucos meses juntos. Ou seja, melhoria contínua praticada constantemente é fundamental, mas se o time foi criado para um tiro curto, todo o aprendizado gerado é jogado fora quando o time é desmontado. E a mais pura verdade é que estamos falando o tempo todo aqui de melhoria contínua e aprendizado constante. Times que trabalham juntos por muito tempo tem grandes chances de chegar lá. Claro que muitas pessoas têm dúvida de como prosseguir quando o time esgota o aprendizado, afinal, um grupo junto muito tempo tenderia a perder a criatividade. Digamos que isso seja verdade. Hackathons, techtalks e outras iniciativas ajudam a renovar o ar, sem necessariamente provocar mudanças na formação dos times.
2) Empoderamento
Empoderamento é outro aspecto claramente negligenciado em organizações mais tradicionais. No entanto, sem empoderamento, o time perde a capacidade de experimentar, e pior, criam-se gargalos no processo de tomada de decisão, uma vez que é o gerente quem decide tudo. Claro que o processo decisório não é uma chave liga-desliga mas sim um processo de aprendizado contínuo. Times de alta performance não só são empoderados para decidir sobre aquilo que os impacta como também decidem sobre o rumo do trabalho, qual tecnologia e ferramentas serão usadas e etc. Não esqueça que empoderamento traz consigo uma enorme responsabilidade (ou accountability), que é altamente desejável em ambientes de alta performance.
3) Dedicados
Quem nunca ouviu falar daquele fulano que estava em três times ao mesmo tempo? Uma hora aqui, outra ali e a vida do fulano parece uma grande confusão. Empresas que não resolveram o problema da gestão de conhecimento acabam invariavelmente caindo na armadilha de alocar as pessoas em vários lugares ao mesmo tempo. Claro que esse tipo de iniciativa aumenta a incerteza, causa estresse, gera inúmeros problemas e leva a organização a trabalhar sempre com especialistas ao invés de generalistas. Times precisam de pessoas 100% dedicadas. Ou contamos com as pessoas o tempo todo, ou nunca saberemos na prática como gerenciar essa bagunça toda. E aí entram os timesheets que por sua vez multiplicam a burocracia e reduzem a produtividade enormemente.
4) Pequenos
Times de alta performance são invariavelmente pequenos. E existe um motivo muito simples: aumenta-se enormemente a complexidade do ambiente (comunicação, organização, tempo gasto em reuniões e etc) ao adicionar mais pessoas ao time. Fora o fato de que acabamos por criar silos, o que por si só já impacta negativamente na gestão do conhecimento. Jeff Sutherland, criador do Scrum, diz que podemos seguir a tradicional recomendação de 3-9 pessoas em um time, mas ele mesmo faz uma ressalva: nunca chegue no 9. Concordo. Os melhores times com os quais trabalhei na última década não passavam de 6 pessoas. O mais incrível de todos tinha apenas 5 (sim, contando o Product Owner e o ScrumMaster).
5) Estáveis
Muitas empresas ainda tratam as pessoas como recursos, jogando-as daqui pra lá e de lá pra cá, sempre com a linda desculpa de apagar incêndios. Não consigo entender como as organizações ainda não perceberam que isso é um ciclo vicioso: jogar as pessoas daqui pra lá e de lá pra cá só gera mais incêndios, pois a troca de conhecimento é sempre pobre, a gestão é uma loucura e a produtividade é invariavelmente baixa. Times precisam de estabilidade. Não se mexe na formação do time, pois isso impacta diretamente na capacidade de estimar (se o time ainda trabalha com estimativas), organizar o trabalho, planejar e etc.
6) Sentam juntos
Esse é o item mais polêmico de todos até porque as pessoas estão cada vez mais trabalhando de maneira remota, principalmente em países onde os salários são mais baixos. Sim, o motivo principal não é o bem estar das pessoas como se imagina, mas a redução de custos. A questão aqui envolve alguns aspectos: troca de conhecimento, dificuldade de comunicação, timezones diferentes, culturas diferentes e etc. Já pensou em pair programming online, com o desenvolvedor que está num fuso-horário completamente diferente e que você nunca o viu ao vivo? Pois é, não é fácil. Penso sempre naquele gráfico do Alistair Cockburn, adaptado pelo Scott Ambler, que mostra que a comunicação face a face é a forma mais eficiente. Acredito fortemente nisso.
Perdeu os outros posts da série de alta performance? Não tem problema! Abaixo estão os links para você conferir:
Valores de Times de Alta Performance
Práticas de Times de Alta Performance
Gostou desta série? Queremos ouvir vocês! Quais valores, práticas e estrutura organizacional seu time adota em busca da alta performance? Comenta aí!