É muito provável que você já tenha ouvido o termo “arquétipo” em algum momento de sua vida, em especial ligado às artes. O cinema em especial utiliza o conceito de forma consistente, quando observamos a personalidade de algum personagem que é refletida por meio de suas ações no decorrer do filme, passando por sua vestimenta, modo de falar e personalidade de forma geral.
A palavra “arquétipo” tem origem grega, e remete a junção de outras duas: “archein” = original ou velho; e “typos” = padrão, modelo ou tipo.
Neste Artigo
A aplicação de arquétipos nas organizações.
Como essas representações mentais e comportamentais arraigadas no inconsciente coletivo podem trazer alguns insights efetivos, em especial no contexto de produtos digitais?
Os arquétipos desempenham funções distintas em uma estrutura social. Dentro da comunicação, o objetivo dos arquétipos é identificar padrões de comportamentos, quais as motivações das pessoas ao adquirir um produto ou serviço e como se comunicar com ela.
Dessa forma o entendimento para organização de diferentes perfis e pessoas ajuda na definição de estratégias específicas, tanto dentro da organização (entendimento do que motiva cada colaborador, por exemplo) quanto fora (avaliação de padrões de comportamento de nossos clientes).
Arquétipos ≠ estereótipos
Antes de nos aprofundarmos, vale ressaltar a importância de não confundirmos conceitos que podem parecer a mesma coisa: enquanto estereótipos são generalizações simplificadas que frequentemente são baseados em preconceitos culturais, raciais, étnicos, de gênero, classe e outros. Ele não leva em consideração as características individuais, é uma representação que toma o lugar do representado de forma simplista e sem embasamento devido.
Já os arquétipos são imagens, símbolos ou modelos universais que representam padrões compartilhados de comportamento, personalidade ou situações.
A criação dos sete 7 arquétipos de um Product Owner (PO)
Em 2016, John Cutler (renomado pensador e escritor sobre gestão de produtos), criou em seu blog uma aplicação bastante relevante em relação aos arquétipos de um Product Owner (PO) ou Product Manager (PM), conforme a imagem abaixo.
Em todas as imagens, o círculo laranja representa a pessoa de produto (Product Owner / Product Manager) e como ele se relaciona com o ambiente.
Vamos explorar cada um deles em detalhes visando trazer uma compreensão melhor de como gerir uma equipe de Product Owners (POs), por meio dos diferentes touchpoints (pontos de contato) que farão mais sentido para interação com cada um dos arquétipos e seus agentes motivadores para que seja possível buscar formas orgânicas de alavancagem de produtividade e geração de valor.
O Leiloeiro
Atua como um grande filtro, captando às demandas dos stakeholders, que normalmente são bem tarefeiras, gera uma lista priorizada, transforma em itens de trabalho para o time, e coleta o retorno dessas entregas para os stakeholders. Vemos bastante esse cenário em times que trabalham com produtos internos direcionados ao negócio (Business to Business, B2B).
O PMP (Gerente de Projetos)
Nesse arquétipo podem existir vários POs simultaneamente, mas, na prática, eles só inserem itens de trabalho para o time fazer e cobram Status, completude e prazo. O PMP, sigla de Project Management Professional (Profissional em Gerenciamento de Projeto), vem do antigo gestor de projetos. Ele é mais próximo do time, mas o que ele faz na prática é ser um gatekeeping (porteiro, porém sentido é mais aplicado aos guardiões de portões de carteira medievais) das tarefas e provê relatório de status sobre o que está acontecendo.
O sucesso aqui é medido pela completude dos itens de trabalho dentro do custo e prazo acordados. Há baixa autonomia enquanto a tomada de decisão de negócio. Isso costuma ficar na mão dos stakeholders. Produtos mais comoditizados, obras e infraestrutura costumam morar nesse contexto.
O MBA
Esse padrão era comum nos grandes bancos. O PO MBA já tem um olhar mais forte para objetivos de negócio, geralmente business centric (daí vem o MBA – Master Business Administration, Mestre em Administração de Negócios). Geralmente é uma pessoa de negócio, que se diz de produto, mas, na realidade, é distante do time. Atua com um proxy (representante) com algum time de tecnologia “traduzindo” às demandas de negócio em demandas de tecnologia.
O Catalisador
Esse PO geralmente tenta filtrar as necessidades de negócio, do cliente e do mercado. Ele busca pontos em comum e tenta em certos momentos fazer passar um ou outro ponto, porém nem sempre há preocupação com a capacidade do time de atender as demandas. Ele tenta equilibrar as necessidades e ver se é possível fazer de tudo um pouco. Infelizmente, não tem tanta proximidade do time.
Mini CEO
CEO é a sigla para Chief Executive Officer equivalente ao Diretor executivo. Esse PO é cobrado por entrega e por resultado. Esse arquétipo está mais relacionado com empresas hierárquicas. O Product Owner precisa interagir com User eXperience (UX, Experiência do Usuário), clientes, stakeholders e com o mercado. Ele/Ela é uma liderança explícita para o time e está muito próximo dele. A responsabilidade (accountability) é toda do/da PO.
Advogado do Usuário
Geralmente tecnologia e negócio dão várias ideias para esse PO, mas ele está sempre sendo o “Advogado” do usuário. Vemos muito esse padrão em empresas muito focadas em crescimento (growth) e em startups. O PO está ali colocando demandas no Backlog com foco em crescimento e experiência do usuário, porém para tecnologia e outras questões importantes, temos outras áreas e pessoas responsáveis por priorizar e executar.
Tecnólogo
Esse arquétipo de pessoa de produto é bem comum para áreas de inovação. Geralmente surge uma nova tecnologia, uma nova ferramenta etc. Esse PO “leva para casa”, e junto do seu time, desenvolvem provas de conceito (POC, Proof of Concept) e apresentam o resultado. É por isso que ele geralmente é cobrado, para apresentar inovações e suas aplicações reais.
E no final, para que queremos e por que usamos arquétipos?
O uso de arquétipos nos ajuda identificar qual é o nosso estado atual, desejado e qual seria o nosso próximo passo. Arquétipos não são prescritivos, nem fazem julgamento. Eles nos ajudam a ter boas conversas enquanto POs sobre o que queremos para o nosso produto/negócio de acordo com as perspectivas de futuro.
Então, não é sobre rotular, é sobre registrar padrões encontrados nas empresas, e identificar que existem alguns mais adequados que outros. Não existe arquétipo certo nem errado, porém existem alguns mais completos. O mais adequado dependerá do momento da sua empresa / time. E, inclusive, pode ser até que em contextos diferentes você tenha que assumir mais de um arquétipo. O importante é ter consciência disso e das suas implicações.
Um exemplo prático de aplicação seria: se hoje me reconheço como do arquétipo “MBA”, considerando os benefícios e as dores ou oportunidades que tenho:
- Faria sentido eu migrar para outro arquétipo mais adequado? Em caso afirmativo, quais seriam os próximos passos? De quem preciso de ajuda?
- Que movimentos precisam acontecer para eu chegar lá? O que me impede de fazer isso hoje?
Fica nosso convite para que você possa se aprofundar mais sobre as possibilidades desse papel-chave, navegar por elas de forma não exaustiva, identificar em qual ou quais você se encontra hoje em seus diferentes contextos e refletir se existe a possibilidade de evolução para um cenário mais relevante para você, para o time e para sua organização.
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Estevan Sanches
Estevan Sanches”Movido por tentar compreender as diferentes relações sociais que compõem o nosso mundo. Coordenador de Produto da foodtech We:Digitek e colunista do Product Guru’s”
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