As disfunções do Time – Parte II – Problemas que podemos evitar

Avelino segurando um microfone e uma camiseta preta escrita Agile. Ele é pardo, barba e cabelos grisalhos.

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Enquanto escrevia sobre as disfunções dos Times de Desenvolvimento percebi que o texto ficaria muito longo e por isso resolvi quebrá-lo em duas partes.

Experimente ouvir este conteúdo sobre disfunções do time de desenvolvimento!

Se você não viu a primeira, confira as Disfunções do Time – Parte I. Espero que goste desta segunda parte!

Apaixonados pela solução: a mais cruel das disfunções

Esta é uma das disfunções mais comuns. Temos que ter o senso de dono do produto e isso é muito importante, todavia não podemos nos apaixonar cegamente por ele.

Se o produto não vende, é incapaz de trazer resultados, já fizemos diversas alterações e nada, nossos clientes estão insatisfeitos e nos abandonando, se estamos preferindo ignorar os números e defendemos nossa solução com unhas e dentes dizendo que é a Oitava Maravilha do Mundo.

Ligue o sinal de alerta. Podemos estar cegamente apaixonados pela solução.

Uma das disfunções mais cruel: A paixão pelo problema destrói empresas. Nesta imagem vemos a frase Ame o Problema. Não a solução.
Ame o Problema. Não a solução.

Qual o problema o seu produto resolve? O problema existe? Quem sofre com ele? Quando ele acontece? Quanto do problema seu produto resolve?

Se o time não sabe responder a essas perguntas, significa que ele provavelmente está só construindo um produto e não resolvendo um problema. Parece simples, mas é uma grande diferença.

O time apaixonado pela solução quer apenas construir o produto como se não houvesse amanhã. A preocupação é entregar o escopo definido custe o que custar.

Já o time apaixonado pelo problema quer resolver o problema. Se o produto que eles estão construindo for inapto para tal, eles vão descartá-lo pivotá-lo com muito mais facilidade, pois não há apego. Veja o artigo do MagnoMenos ‘como’, mais ‘por quê?’

Desentrosados

Não sei se você gosta de esportes coletivos, mas uma das piores coisas que podem acontecer em um time de futebol, basquete, vôlei, etc. é estar desentrosado.

O zagueiro lança uma bola, o meio de campo tem que correr igual ao Flash, pega a bola e toca para o lado que não tem absolutamente ninguém.

Ninguém se fala, ninguém conversa e nada funciona. Resultado: Time 1 x 7 Problema.

Jogo de futebol em que os zagueiros falham três vezes, a bola é atrasada para o goleiro e ele deixa a bola entrar no gol.
Desentrosados

É necessário termos um time bem entrosado. Um espaço de trabalho tranquilo e seguro, pessoas colaborativas e momentos de descontração. Mais uma vez vale a dica de Trabalho em par e Dojos.

Dedicação parcial

Você é uma pessoa muito importante e por isso não pode ficar dedicado 100% do tempo a um projeto. Também é muito produtivo, então você vai participar de dois projetos.

Mas só dois projetos, você é muito bom para isso. Tome três projetos. Esse terceiro “projetinho” é bobinho, logo você também participa do quarto projeto simultâneo. Você é tão bom que tudo vai dar certo… Só que não.

O que escrevo abaixo é algo básico, mas muitas empresas ignoram: Quanto mais coisas você faz ao mesmo tempo, mais tempo leva para você fazer cada coisa (unidade).

Fazer projetos em paralelo aumenta a INEFICIÊNCIA.

Quando estamos trabalhando em dois projetos simultâneos, achamos que dedicamos 50% do nosso tempo para o projeto A e 50% do tempo para o projeto B.

Isso não é verdade, pois temos um tempo de perda de troca de contexto. Quando trocamos do projeto A, perdemos um tempo nos desconectando dele e perdemos mais tempo para nos lembrarmos e sermos colocados a par do que está acontecendo no projeto B.

Gosto muito da tabela feita por Todd Herman, diponível no site da April Perry Ela demonstra a perda de tempo ocorrida com a troca de contexto. Veja o gráfico da April abaixo.

Tabela demonstrando o tempo que trabalhamos em cada projeto e o tempo que perdemos com a troca de contexto. Quando estamos com mais de 3 projetos ficamos mais tempo trocando contexto do que trabalhando efetivamente no projeto.
Tempo desperdiçado com a troca de contexto para pessoas com dedicação parcial

Veja o próprio Todd Herman falando sobre esse assunto (em inglês).

YouTube video

Além disso, nem todo o dia você estará 100%. Há dias bons e dias ruins. Há dias em que você terá que sair mais cedo, chegar mais tarde. Veja o artigo Humanos sim! Recursos não!

“Muito trabalho e pouca diversão fazem de Jack um bobão”

A frase é do Filme O Iluminado (1980) de Stanley Kubrick. Traduz algo importante que é fácil esqueceremos na rotina de trabalho. O que fazemos não pode ser um fardo que só serve para pagar as contas do mês.

Temos que nos divertir enquanto trabalhamos. É fundamental incluir momentos de descontração. Almoços com o time e amigos da empresa, comemorar aniversários, fazer atividades externas, promover dinâmicas para descontração, etc.

Não se esqueça de ler Quer aumentar a produtividade da empresa? Dê folgas!

Imagem do filme O Iluminado. Quando Jack (Jack Nicholson) escreve repetidamente em sua máquina de escrever: All work and no play makes Jack a dull boy". Em português: Muito trabalho e pouca diversão fazem de Jack um bobão
Cena do filme O Iluminado (1980) de Stanley Kubrick

Matadores de ideias

Passou o final de semana e você pensou em uma super novidade. Segunda-feira e você vai todo feliz para o trabalho falar sobre a nova ideia que poderá trazer bons resultados para a empresa.

Só que você toma um grande toco. Nem param para ouvir o que você tinha para falar. Dizem eles: isso é para o futuro. Agora temos que pensar no presente.

Uma das disfunções mais comuns representadas por um toco de basquete. DeMarcus Cousins jogador da NBA pelo Golden State bloqueia um lançamento de um jogador rival
Toco na ideia

Pronto. Ideia morta. Caso isso aconteça várias vezes, você começará a pensar duas vezes antes de trazer uma ideia nova, afinal, vão matá-la de qualquer forma.

Muito melhor do que ter um time onde os membros não matam ideias, é ter um time que itera sobre novas ideias para construir algo muito melhor. Caso a ideia seja ruim, as iterações mostrarão isso.

Mas atenção: existe uma linha muito tênue entre inovação pela inovação e inovação que traz resultados e temos que ter muito cuidado para não irmos de uma ponta ou na outra.

Não queremos ser matadores de ideia porque isso paralisa a empresa no tempo. Todavia ser inovador sem resultado também não é bom. Ciclos curtos de experimentação são fundamentais para validar a eficácia de uma ideia.

Você sabe, eu acho importante manter um equilíbrio nas coisas. Sim, equilíbrio, essa é a palavra certa. Porque quem que quer muito, arrisca perder absolutamente tudo. Claro, quem quer muito pouco da vida, pode não receber nada.
(Tommy Angelo personagem do jogo Mafia: The City of Lost Heaven)

Não diverso

Minha esposa, Ruth, sempre dizia que, se um marido e uma esposa concordassem em tudo, era sinal de que um deles não era necessário para a relação.
(Billy Graham)

Ter um time onde todas as pessoas pensam iguais, parecem iguais e se comportam da mesma forma é um risco imenso. Todos terão o mesmo ponto de vista e dificilmente novas ideias emergirão.

Ter um time diverso é uma forma de chegarmos a resultados melhores. Uma pessoa pode ser boa em ter ideias, mas ruim para executá-las.

Temos pessoas que serão boas para executar ideias, outras para avaliar riscos, outras ajudarão a construir o time e por aí vai.

Quanto maior a diversidade, mais resiliente será o seu time, pois quando houver um problema haverá cabeças pensando de forma diferente sobre as possíveis soluções.

“Deixem os seus egos na porta”

A frase é atribuída ao produtor musical Quincy Jones quando ele reuniu um time de estrelas da música para gravar o álbum We are the World em 1985. O objetivo do álbum era arrecadar fundos para combater a fome na África.

Valeu em 85, vale também hoje. Em um time com egos inflados, você não tem colaboração. Cada um tentando ser o João, herói imortal.

A longo prazo será um desastre e acabaremos com um monte de estrelas, mas não com um time (ver o artigo: Você tem uma estrela no seu time?).

Foto oficial do single: USA for Africa
USA for Africa (1985)

Deixe seus preconceitos na porta também

Ao montar um time deixe do lado de fora os preconceitos. Na verdade, deveríamos deixá-los do lado de fora da vida.

Não contratar pessoas por causa das diferenças de sexo, raça, credo, nacionalidade, naturalidade, origem social é BURRICE.

Nosso objetivo é montar o melhor time do mundo e ficar aprisionado à intolerância só atrapalha este propósito.

Quer saber mais sobre os papéis do Scrum? Convido você a participar do nosso treinamento de Certified Scrum Master (CSM).

Veja outros artigos relacionados no Blog:

Quer conhecer mais disfunções e saber como evitá-las? Veja o treinamento de Técnicas Ágeis de Facilitação.

Avelino segurando um microfone e uma camiseta preta escrita Agile. Ele é pardo, barba e cabelos grisalhos.

Sobre o autor(a)

Trainer na K21

Avelino Ferreira é formado e mestre em Ciência da Computação. Teve uma longa trajetória na TI, começando como programador e chegando a gestor de diversos times de criação de produtos digitais. Conheceu e começou a adotar as melhores prática de de Métodos Ágeis em 2008. Desde então, se dedica a auxiliar outras empresas na construção da cultura ágil. Atualmente, é Consultor e Trainer na K21

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