Mudar nunca é fácil, mas a mudança é essencial

Há pouco tempo fiz duas mudanças na minha vida. A primeira foi mudar de apartamento na egrégia cidade do Rio de Janeiro. O apartamento é maior, estou mais perto de serviços e, além disso, a entrada do metrô fica literalmente na minha rua. No Rio, isso é uma baita vantagem para não perder 200 horas no trânsito. A outra mudança foi no escritório onde eu trabalho. Do centro para o centro do Rio. Para minha vida ligada ao metrô, mudei da Cinelândia para a Uruguaiana em um prédio mais moderno e com infinitamente mais serviços no entorno.

O que as duas têm em comum? Muita reclamação. Veja que ambas são mudanças para a melhor, ainda assim reclamamos. Encaixotar coisas, a ansiedade do novo, receio do ambiente, obras e adaptações. Tudo isso faz com que mudar sempre gere uma certa “dor”.

Não se engane se sua empresa desse para você uma promoção e tem que se mudar para uma casa incrível, de frente para a praia, com tudo pago, quando chegasse a hora de empacotar tudo, você provavelmente pensaria: “putz, vou ter que encaixotar tudo isso”.

Reduzindo o impacto da mudança

Então, sabemos que toda mudança sempre resulta em alguma resistência. O que podemos fazer? Mudar pequeno, mudar rápido e mudar de forma que seja fácil retornar.

Mudança de endereço, não temos muito o que fazer, ela sempre será grande, lenta e quase impossível de retorno. Entretanto, na nossa vida pessoal e profissional não precisa ser assim.

Se você for uma pessoa que não pratica exercícios, não é muito recomendado que tente começar por uma maratona (42 km). Pois você vai se machucar e ficar um tempão sem dar um passo. A melhor estratégia, no geral, será começar com pequenas caminhas e fazer pequenos aumentos de distância e velocidade ao longo do tempo.

O mesmo se aplica ao seu time. Se hoje eles não utilizam nenhum método de gestão, a pior coisa que você pode fazer é tentar chegar da noite para o dia com uma metodologia complexa, cheia de papéis, reuniões e com um monte de artefatos. A resistência será gigantesca ou, quem sabe, inviabilizadora. Por isso, métodos e frameworks como Kanban e Scrum se tornaram tão populares.

Encontre a pior dor

Fato: toda mudança gera resistência! 

Fato: quem não muda, parece.

Se isso são fatos, não temos como evitar mudanças e sabemos que sempre teremos resistência, então, busquemos a nossa pior dor para termos o melhor resultado. Essa pior dor é um problema que estamos enfrentando ou uma oportunidade de melhoria.

Imagine-se nessa imagem. Você está empurrando a gangorra para baixo, esse é o seu esforço. Do outro lado tem uma caixa que é a sua mudança. Quanto mais alto você conseguir empurrar, maior será o seu ganho. Entretanto, há uma força contrária ao seu esforço que é justamente a resistência. Se a sua mudança estiver apoiada sobre a sua pior dor, você sentirá a resistência, mas terá um bom ponto de apoio para alcançar bons resultados.

Diagrama ilustrando uma pessoa fazendo esforço em uma alavanca para mover uma caixa que representa a mudança, mostrando o ponto de apoio como a pior dor e a resistência ao lado oposto, com ganho crescente indicado por uma seta.
A mudança acontece quando aplicamos esforço no ponto de maior dor percebida, vencendo a resistência e gerando ganho.

Agora, imagine que você quer evitar sentir dor a qualquer custo e faz mudanças em coisas irrelevantes. Em outras palavras, trata apenas a “dorzinha”. É como se você pegasse o ponto de apoio e deslocasse para mais perto da mudança. Você terá pouca resistência, porém seu ganho será marginal.

Ilustração de uma pessoa empurrando uma alavanca com facilidade, representando mudança com ponto de apoio em uma dor insignificante, mostrando pouco ganho e baixa resistência.
Quando o ponto de apoio é colocado em uma dor insignificante, o esforço é pouco, porém também não gera quase nenhum ganho.

Por fim, imagine que você decidiu mudar tudo de uma vez. Você pega todas as “dores” e decide fazer barba, cabelo e bigode, resolvendo tudo em uma tacada. É o equivalente a pegar o ponto de apoio e deslocar para perto de você. O ganho pode ser grande, mas o esforço que você terá que ser hercúleo, pois a resistência será absurdamente forte. Entretanto, infelizmente, veja que não há como aumentar o esforço. Você tem uma quantidade limitada de pessoas, em um tempo limitado e um dinheiro limitado. Em outras palavras, a mudança não ocorrerá e não haverá ganho.

Ilustração de uma pessoa sofrendo para mover uma alavanca posicionada sobre todas as dores ao mesmo tempo, tornando a mudança difícil e aumentando a resistência.
Quando tentamos resolver todas as dores de uma vez, o esforço aumenta, a resistência cresce junto e é muito difícil ver algum ganho.

Conclusão

Mudar nunca será totalmente confortável, e tudo bem. Existe um custo emocional, físico e até organizacional em qualquer movimento. Mas ficar parado também tem um preço: permanecer como estamos pode nos fazer perder oportunidades, resultados e até relevância. Por isso, mudar com inteligência é a chave. Comece pequeno, avance com frequência e escolha com cuidado onde colocar seu esforço. Busque a pior dor, aquilo que realmente importa, pois é ali que o ponto de apoio é mais forte. Quando fazemos ajustes onde dói de verdade, mesmo que haja resistência, o ganho compensa. No fim das contas, mudar não precisa ser sinônimo de sofrimento constante. Pode ser um processo contínuo, intencional e sustentável, um passo de cada vez, mas sempre na direção certa.

Afinal, como dito Por Einstein:

“Insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes.”

Quer ver uma grande mudança no desenvolvimento de produtos digitais? Dá uma olhada no artigo: Vibe Coding: A Revolução que Vai Mudar a Forma de Criar Produtos.

Avelino segurando um microfone e uma camiseta preta escrita Agile. Ele é pardo, barba e cabelos grisalhos.

Sobre o autor(a)

Trainer na K21

Avelino Ferreira é formado e mestre em Ciência da Computação. Teve uma longa trajetória na TI, começando como programador e chegando a gestor de diversos times de criação de produtos digitais. Conheceu e começou a adotar as melhores prática de de Métodos Ágeis em 2008. Desde então, se dedica a auxiliar outras empresas na construção da cultura ágil. Atualmente, é Consultor e Trainer na K21

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