O papel das organizações no “novo normal”

Em março tive os primeiros sintomas da covid-19, fiquei doente, fui internada e pensei que não resistiria. Fiquei afastada do trabalho por um tempo e aos poucos estou retomando minhas atividades na K21, ainda meio devagar, me localizando no tempo e no espaço.

Nas últimas duas semanas, estou me expondo mais devido ao RH Ágil Experience e, ao mesmo tempo, desfrutando da nova oportunidade de vida que ganhei após minha luta contra a doença.

“A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.”
(Oliver Wendell Holmes Sr.)

E toda esta minha experiência está me gerando uma reflexão: como será que estamos nos preparando para receber e ajudar as pessoas que de algum modo estão convivendo de perto com a doença?  Quero compartilhar com vocês a minha experiência e como ela pode servir de aprendizado para todos nós.

Cuidado com as pessoas em primeiro lugar

A Covid-19 veio pra me fazer repensar uma série de questões e me adaptar ao novo mundo onde estamos vivendo. E ao escrever sobre esta minha experiência, percebi o quanto o apoio da minha empresa foi fundamental, o que me levou a refletir sobre a importância das empresas neste contexto.

Durante a minha luta contra a Covid, recebi muito apoio da K21. Algumas atitudes simples fizeram muita diferença pra mim. Um exemplo foi um ponto de contato da empresa com a minha filha durante toda minha internação, ajudando inclusive com questões burocráticas. Me senti muito amada e cuidada através destes gestos. Só quem passa por isso sabe o quanto este cuidado é fundamental em momentos de luta e de dor.

Nos últimos dois meses, a K21 entrou em minha alma por intermédio de várias pessoas. O respeito ao meu momento para falar ou não da minha experiência com a doença foi impressionante. As pessoas demonstraram um dom incrível para me ouvir e receber meu choro (sim, eu choro!!!). Me senti totalmente segura para compartilhar sobre minha evolução, meus sentimentos e aprendizados. Genuinamente, ficou explícito que minha vida e saúde estão acima de tudo. Existe um interesse sincero em acompanhar a minha recuperação.

Valorizando as coisas simples

Meu retorno às atividades profissionais está recheado de reflexões devido ao deslocamento tempo, espaço e ego. No sentido do meu eu, quem eu sou? Sou a mesma pessoa de antes? O que mudou?

Dentre muitos detalhes desta reflexão, vou me ater a um em especial. Durante a organização do RH Ági Experience, o time me pediu para gravar um vídeo de divulgação. Terminei de gravar e fui assistir antes de enviar. Simplesmente chorei, chorei e chorei, copiosamente. Não estava acreditando no que eu estava vendo. Tive a sensação de que meu cérebro ainda não tinha realizado que estou viva e bem!

Eu me vi falando (algo que tive muita dificuldade durante a doença), sorrindo e com um ânimo para viver. Coisas simples, mas que passei a dar enorme valor. Eu venci muito mais que a doença, estou vencendo meus medos e se não fosse as pessoas que trabalham comigo na K21 acreditando em mim, segurando na minha mão e me ajudando, talvez não conseguiria superar tudo isso sozinha, em tão pouco tempo.

Voltando ao [novo] normal

Aos poucos estou retomando minhas atividades. Lendo novos artigos, ouvindo podcasts, conversando sobre este ou aquele cliente, escrevendo, discutindo sobre novos treinamentos, nada demais. Foi me dado este espaço para eu absorver conteúdo e ir chegando devagar, respeitando meu tempo, meu corpo e minha mente depois da luta contra a Covid-19. Ganhei este presente e estou tentando usar com sabedoria.

Estou adaptando e, neste caso, uso da minha licença poética para dizer que estou me fazendo inteira. Estou me entendendo e quero me encontrar neste novo mundo, um passo de cada vez. Talvez, em meio a isso tudo, eu descubra que realmente mudei, que tenho novos interesses, uma nova ordem. Algumas coisas perderam o sentido e outras, ganharam um novo sentido. Ainda não sei.

Uma ansiedade toma conta de mim. Um pouco de angústia, medo… Sim, lá vem esse sentimento me atormentar novamente. Tudo mudou: a forma de trabalho, relações, ferramentas, dinâmicas etc. Ao mesmo tempo, cheguei numa nova empresa, mais inovadora do que antes. A capacidade das pessoas da K21 em se adaptar, aprender e ensinar, é espantosa e, de certa forma, eu até que já esperava por isso.

E o resultado deste encontro? Uma sensação de “delay”. Muitas coisas realmente não consigo acompanhar, é uma fragilidade esperada mesmo. Mas ainda assim fui acolhida. Ouvi uma frase mais ou menos assim:  “reconhecer e atuar com o que temos de melhor”. Muito cuidado, não é mesmo?

Merit Hug

Primeiros dias de trabalho e logo chegou o dia do Merit Hug, um jeito incrível de reconhecermos às pessoas e nossas interações de acordo com os valores da K21. Esta é uma adaptação que fizemos ao Merit Money durante a quarentena.

Para minha surpresa eu recebo um “Big Hug” no mês do meu retorno, com direito a “Oscar” e tudo!!! Com uma frase que vou guardar para toda vida:

“Porque nenhum valor é mais importante do que nossa vida e estar bem. Guerreira incrível que é você, se cuida e fique boa. Queremos você com força total, trazendo brilho para nossos dias, mas faça isso com calma! Saudades enormes!”
(Raphael Chewie / Abril, 2020)

Como não se emocionar? Como não chorar de felicidade por estar ao lado de pessoas tão incríveis? Sim, sou chorona, me emociono com o belo, com o simples e com o verdadeiro. Tudo isso traz uma nova forma de ser.

O papel das organizações no “novo normal” 1

E o papel das organizações neste “novo normal”?

Com todas estas coisas dentro da cabeça, comecei a pensar: como às empresas vão receber às pessoas após o distanciamento social? Como receberão às pessoas que contraíram a doença ou perderam um parente ou amigo?

Como tudo relacionado a doença ainda é muito recente para mim, observo que existem os mais variados comportamentos associados à pandemia e cada pessoa terá suas próprias percepções e reações. Mas sinto que já posso compartilhar alguns pontos para ajudar nesta reflexão.

Percebo que algumas pessoas ainda veem o problema como algo distante (como eu mesma via, até pouco mais de dois mês). Enquanto outros vivem o luto pela perda de um parente ou amigo, sem a possibilidade da despedida. Já outros se queixam do distanciamento social, da falta do que fazer, de como lidar com os filhos enquanto trabalha em casa. Enfim, cada um tem suas questões e seu jeito para lidar com tudo isso. E todos os problemas são legítimos, cada um com seus próprios desafios.

Assim, acredito que cada um vai ter que se reconstruir ao seu modo e precisaremos ter muito cuidado para respeitar o tempo e o espaço de cada um. Não temos controle sobre os sentimentos das pessoas, mas temos influência sobre o sistema e sobre as formas de trabalho. Esta é a nossa grande oportunidade de repensar nossa cultura e organização, seja no nível individual, do time ou até mesmo da organização.

Transformando ameaças em oportunidades

Estamos vivendo a oportunidade de uma “Grande Pausa”, que está nos trazendo uma possibilidade extraordinária para repensar nosso jeito de fazer às coisas, de trabalhar, de lidar com o outro. Foram expostas nossas inseguranças, deficiências, comportamentos e nossa capacidades de reação está sendo provada como nunca antes.

A Grande Pausa expôs às forças e deficiências das estruturas, sistemas, nossos negócios e nossa cultura como sociedade. E ainda não sabemos quando será o fim deste desafio.

Relembrando a Grande Depressão, 1929, foram necessários 10 anos para que o PIB americano voltasse aos níveis de 1929. E mesmo no início da Segunda Guerra Mundial, o desemprego ainda era elevado: 15%, em 1940. Ou seja, ainda temos um caminho pela frente de muita adaptação. E será que este caminho tem volta?

Na medida que adentramos nessa “nova normalidade” ou Nova Forma, como alguns estão chamando, temos a oportunidade repensar nossas organizações, reavaliar quais valores vão nos guiar daqui pra frente:

  • Como vamos cuidar das pessoas?
  • Qual será nossa identidade?
  • Como vamos nos posicionar neste novo mundo?
  • Quais estratégias vamos adotar?
  • Como vamos aproveitar as novas oportunidades?

Bem, a única coisa que sabemos é que temos muito trabalho pela frente! Por outro lado, estamos ficando muito mais resilientes a partir das nossas experiências. Estamos aprendendo na prática sobre antifragilidade.

Que tal começarmos agora?

Tudo começa com as pessoas. No fundo, é tudo sobre pessoas. E para cuidar cuidar delas, nada melhor do que compaixão e empatia! Arrisco a dizer que precisamos até encontrar uma forma de lidar com cada uma delas.

Este é o momento de (re)construirmos a organização centrada no ser humano, com mais confiança, colaboração e responsabilidade compartilhada, porque se as empresas realmente se prepararem para receber as pessoas de uma maneira mais adequada ao novo mundo que estamos vivendo, com certeza teremos uma sociedade melhor.

Ter o propósito e valores comuns, que unem pessoas diferentes e ainda assim, permitir que os indivíduos se expressem e se reforcem, criando uma cultura baseada em confiança.

Pode ser até que assim a gente resolva constantes problemas das nossas organizações de engajamento e retenção, por exemplo. As pessoas no fundo buscam lugares que elas sejam respeitadas, amadas e valorizadas. Usando o meu lugar de fala, depois de tudo que a K21 fez e está fazendo por mim, qual você acredita ser meu nível de engajamento?

“A única coisa constante no mundo é a mudança.”
(Heráclito de Éfeso)

Karen Monterlei, Agile Expert e Trainer na K21

Sobre o autor(a)

Agile Expert e Trainer na K21

Agile Expert e Trainer na K21, atua em melhoria contínua com os mais diversos métodos há mais de 20 anos, em empresas nacionais e multinacionais, antes como Executiva. Possui Especialização em Economia e Gestão Empresarial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e graduação em Gestão de Recursos Humanos. Certificada em Cultural Transformation Tools Practitioner® Training pelo Barrett Values Centre – CTT Tools Practitioner, Coach com formação internacional pela SLAC Coaching – Sociedade Latino Americana de Coaching®, Analista DISC Profiler pela e-Talent e SLAC Coaching. Green Belt pela Seta Desenvolvimento Gerencial, CSM – Certified ScrumMaster pela Scrum Alliance®, Kanban Management Professional pela Kanban University.

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