Todos os anos, o Scrum Gathering Rio (SGRio) é um daqueles eventos que já acabam com o público pensando na próxima edição. Depois de um adiamento forçado em 2020, por conta da pandemia, a organização fez bonito em 2021, trazendo nomes inéditos e de peso no cenário nacional e internacional da Agilidade.
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A comunidade Ágil, mais uma vez, deu show. Além dos voluntários, que todo ano fazem o SGRio acontecer com maestria, a plataforma permitiu reproduzir os espaços de interação do presencial, com conversas “de corredor”, papos construtivos, encontros e reencontros de pessoas de diferentes lugares do Brasil e do mundo.
Em tempos de pandemia, o SGRio foi muito mais que um evento na agenda da comunidade ágil. Foi também ambiente seguro, calor humano, espaço de aprendizado e evolução. Que venha 2022!
SGRio 2020/21: insights do terceiro dia
Abaixo, você confere um resumo dos principais insights do nosso time no terceiro e último dia de evento. Vale conferir também, no final, o resumo dos outros dois dias.
The What & Why of Continuous Discovery
Teresa Torres é Coach de Product Discovery, palestrante e autora do livro “Continuous Discovery Habits”, que será lançado em breve.
Com seu background de experiência de ensino a mais de 6.500 profissionais de produtos e treinamentos de centenas de equipes em empresas de todos os tamanhos, ela trouxe ao SGRio 2020/21 uma abordagem estruturada e sustentável para que as equipes de produto possam realizar o Continuous Delivery adaptando soluções a partir do Continuous Discovery.
“Discovery é a decisão da atividade; e delivery é o que estamos fazendo para construir e entregar o produto.”
Teresa Torres
Devido ao time de produto ser composto por uma equipe de geralmente oito pessoas, Teresa orienta que as tomadas de decisões sejam restritas a um trio composto por Product Manager, Design Lead e Tech Lead. O objetivo é agilizar as decisões do grupo:
“Se você colocar oito pessoas para tomar todas as decisões juntas, você vai andar muito devagar. A ideia do trio de produto é agilizar a tomada de decisão, eles são capazes de comunicar a decisão para o restante da equipe. O que você não pode fazer é convidar todos para a tomada de decisão, se não vai atrasar o processo. Mas é importante que todos estejam atualizados sobre os aprendizados.”
Teresa Torres
Organizações Frankenstein – A anti-Agilidade Organizacional
Gerente de Desenvolvimento e Aprendiz da Agilidade, Felipe Leite apresentou uma palestra cheia de referências históricas e bibliográficas contando o que acontece quando as organizações acreditam que times ágeis isolados eficientes são a fórmula para a Agilidade Organizacional.
A principal base para a história foi o livro Frankstein escrito pela Mary Shelley em 1831. Para Felipe, a criatura do Dr. Victor Frankstein se assemelha às empresas que querem entrar na moda da agilidade mas erram em três pontos:
- Incapacidade de autogestão
- Organismo sem propósito evolutivo
- Falta de integralidade
“Você dentro de uma organização poder falar sobre seus hobbies, trazer um pouco de você, botar isso dentro da organização, tirar a máscara corporativa e ser quem você é, é uma forma que vai afetar a organização de forma positiva.”
Felipe Leite
Felipe comenta que na história da Mary Shelley o médico e a criatura compartilham a mesma alma, o que também podemos observar nas organizações já que elas representam o espelhamento do nosso comportamento:
“O comportamento é um espelho em que cada um vê a sua própria imagem. Então, se a gente olhar para o que a gente está fazendo dentro da organização, como a gente está fazendo e quais os objetivos, é uma forma da gente começar a nos entender dentro do que a gente está fazendo.”
Felipe Leite
Questionado sobre como as organizações podem desfazer o fake agile, ele recomenda uma discussão aberta para primeiramente entender por que este é o caminho atual:
“Agilidade real está muito ligada a ser adaptável a mudanças. Se a organização viu algo no espelho que ela não está satisfeita, chegou a hora de discutir. E discutir não o C-level somente, mas trazer as pessoas da organização para discutir algumas destas questões, especialistas dentro da organização, pessoas que dominam certos temas dentro da organização para trazer um pouco a visão deles, de qual é o caminho do fake agile. Por que a gente está criando este caminho? O que a gente está tentando conquistar com isso? Será que a gente consegue mudar este caminho através da empatia ou está tentando olhar só para o ego conquistador e realizador?”
Felipe Leite
Agile 4 Sales – Agilidade Num Time de Vendas
Decididas a mostrarem que o ágil funciona independentemente do contexto em que está inserido, Bruna Moreira, Especialista em Agilidade Organizacional na UPL, e Fernanda Magalhães, Agile Expert K21, compartilharam no SGRio 2020/21 o case de transformação na área de vendas e pricing da UPL, multinacional de defensivos agrícolas.
Segundo elas, o Ágil já era um valor na companhia mesmo antes da consultoria com a K21, que iniciou com a transformação do RH. Após obter resultados positivos, decidiram expandir a agilidade e escolheram a área de vendas para este experimento. Sobre a escolha do time, Bruna pontua:
“Escolhemos a melhor regional para começar o trabalho, com bons resultados, colaboradores já engajados e mais desenvolvidos para pontuar o que a gente poderia trabalhar. Você tem que testar com quem vai contribuir com o processo.
Bruna Moreira
Para Fernanda, o apoio da alta liderança foi fundamental para conseguir o engajamento com os processos ágeis:
“É menos sobre saber sobre as práticas ágeis, mas ter as pessoas estarem abertas à cultura de experimentação. Os diretores também estavam apoiando este movimento pela oportunidade de escrever uma história diferente dentro da empresa. É interessante começar por quem quer. Estas pessoas no caso já tinham um time aberto e psicologicamente seguro para testar novas formas de olhar para o trabalho.”
Fernanda Magalhães
Fernanda acredita que a transformação cultural é a mais importante em todo o processo e que “uma cultura forte é quando você tem todos os valores da organização em atitudes que consigam representar estes valores”.
Bruna complementa que “o que realmente traz a cultura ágil e consolida são as cerimônias”, mas alerta:
“Não sigam à risca o modelo, o método, o livro, o guia… Ouçam o que o seu cliente está falando, o que ele precisa de fato naquele momento. E, aí, você adapta método, cultura, prática. E enfim você consegue ter o resultado esperado. E adapte para o que o seu time e o seu cliente conseguem fazer.”
Bruna Moreira
Pensando as organizações do século XXI
Raphael Albino foi o keynote de encerramento do SGRio 2020/2021. Ele começou traçando uma linha do tempo, desde o surgimento da internet e automatização dos negócios até o futuro emergente.
Compartilhando pesquisas e métricas importantes, ele lembrou que embora a pandemia tenha acelerado a transformação digital em muitas organizações, ainda existem barreiras, como falta de suporte financeiro, expectativas irrealistas e o fator cultural nas empresas, entre outras.
Raphael estuda Transformação desde 2016, e nesses anos, ele conta o que percebeu:
“Essencialmente, a gente tem dificuldade de flexibilizar estratégia. Quem nunca teve contato com aquele mapa maravilhoso mas que nunca foi para o dia a dia?”
Raphael Albino
Usando um case, ele mostrou alguns aprendizados:
- “Os modelos são atalhos que nos permitem entendê-los mas também nos convidam a adaptá-los para dentro do nosso ambiente. Não é Scrum, Kanban ou Safe que vai resolver o problema de uma organização.”
- “Existe todo um arranjo social dentro da organização que simplesmente vai bloquear a criação de equipes multifuncionais e auto-organizadas. Não é porque um time se chama squad que tudo vai se resolver.”
- “O aprendizado quando é orientado em cima de um problema acaba sendo mais efetivo, e sensibiliza. Temos que treinar, mas por que estamos treinando?”
- “Identificar esse mapa social da organização para saber o capital social dessas pessoas e como elas serão úteis e promotoras da transformação pode ser bom. Nem todo mundo vai estar no barco, e está tudo bem.”
Raphael convidou o público a refletir sobre o quanto a estratégia da empresa tem como diretriz atender melhor o seu cliente. E como a transformação deve estar ligada à estratégia, muito mais do que a métodos e ferramentas.
“Transformação demanda estratégia. Nós precisamos pensar em estratégia. Porque agilidade não é um fim, é um meio de transformação.”
Raphael Albino
No fim do terceiro e último dia, o SGRio 2020/2021 terminou com um mosaico na tela da plataforma, com as fotos que os participantes puderam fazer durante todo o evento.
Você participou do SGRio 2020/21? Comente quais as palestras que mais gostou!
Veja também como foram os outros dois dias do evento: