Como a cultura ágil pode ajudar o perfeccionista

Como a cultura ágil pode ajudar o perfeccionista? Acho que podemos definir, de uma forma geral, um perfeccionista quando uma pessoa se esforça para fazer algo extremamente bem-feito, uma pessoa que tem uma preocupação constante em realizar tudo com perfeição.

No livro “Never Good Enough: Freeing Yourself From the Chains of Perfectionism“, de Monica Ramirez Basco, nós somos apresentados a dois tipos de perfeccionistas: o introspectivo (que apresenta pouca autoestima e confiança, no mundo deles, qualquer erro cometido é terrível) e o extrovertido (que não apresenta baixa autoestima, mas não confia nas habilidades ou capacidades do restante do grupo de trabalho e exige deles o perfeccionismo cobrado a si mesmo).

Perfeccionismo – Padrões extremamente altos

Perfeccionismo é uma tendência de adoção de padrões extremamente altos, uma dificuldade em abandonar esses padrões e ter uma autocrítica elevada. Essa é a ideia que um perfeccionista tem, de que não pode errar; que deve ser a mais bonita, o mais inteligente, mais bem-sucedido; ter e seguir um alto padrão e sempre fazer absolutamente tudo certo para ser o melhor em tudo também.

Agora, quando entramos no mundo corporativo nos deparamos com cenário mais complicado, pois mesmo os não perfeccionistas acabam tendo que lidar com o perfeccionismo do Planejamento Anual… onde durante um mês os Astrônomos Nadamuda (referência ao Castelo de Mentiras, escrito por Rodrigo Toledo e Avelino Filho) se trancam em uma sala e milagrosamente conseguem prever com exatidão um cenário futuro de um ou mais anos, com a mais pura convicção de que nada mudará nos próximos meses!

Planejamento perfeccionista, mentira!

Depois desse devaneio dos “magos com caneta”, toda a organização tem que viver essa mentira durante um ano inteiro! Sim, mentira, o mundo está mudando tão rápido que a única certeza que tenho, é, que quando chegar a data da entrega do projeto ou no fechamento do ano, posso afirmar que este planejamento maravilhoso estará ERRADO.  

O desafio ao perfeccionista. Uma foto do Mike Tyson (pugilista) dando um soco e ao lado a frase: Todo mundo tem um plano até levar um soco na boca.
Máxima de Mike Tyson

Pois bem, partindo de um princípio simples, que feito é melhor que perfeito, já começamos indicar um caminho para a “cura” dos nossos perfeccionistas de plantão. 

Acreditamos que esmiuçar nos mínimos detalhes um planejamento faça um perfeccionista feliz! Então que tal planejar constantemente, mas só a fatia que realmente interessa naquele momento. Em um planejamento Ágil, segundo Rafael Sabbagh utilizamos apenas o nível de detalhes que podemos “enxergar”.

Para planejarmos um trabalho a ser realizado até o próximo dia, por exemplo, podemos utilizar um nível de detalhes bastante alto. Isso é, cada pequena tarefa a ser realizada. Para as próximas duas semanas – um ciclo de desenvolvimento, por exemplo – podemos utilizar um nível de detalhes ainda razoavelmente alto, porém menor do que para apenas um dia. Ao planejarmos uma entrega que acontecerá daqui a dois meses ou mesmo o ano inteiro de projeto, a quantidade de detalhes diminui quanto mais longe olhamos no tempo, de forma que pouquíssimos detalhes podem ser utilizados para planejarmos o que está mais distante. Em contrapartida, um planejamento tradicional geralmente busca descrever em detalhes o que será feito durante todo o projeto.

Sobre o autor(a)

Agile Expert e Trainer na K21

Andre Bocater Szeneszi é sócio na K21 e co-fundador da startup WBrain Agile People. Com uma longa trajetória empreendedora e também como HeadHunter, Andre é apaixonado por Pessoas e Cultura Ágil. Formou-se em Administração pela PUC-Rio e possui diversas especializações em Business, como: especialização em Finanças pela Pontifícia Universidad Católica de Buenos Aires, Gerenciamento Estratégico pela Universidad de Belgrano e Strategic Planning & Decision Making pela Berkeley. Atuou como professor da Pós-Administração da Fundação Getulio Vargas durante muitos anos e também ministra treinamentos de Cultura Ágil no Brasil, América Latina, Estados Unidos e Europa. É colunista da Revista Human em Portugal.

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