A expressão “tech debits” ou dívidas técnicas foi utilizada, pela primeira vez, por Ward Cunningham criando a analogia de que às vezes podemos fazer dívidas como, por exemplo, tomar algum dinheiro emprestado do banco, o que acumula juros e faz a dívida naturalmente crescer, mas que em algum momento precisaremos nos planejar para pagá-la.
Pra quem nunca teve contato com essa expressão, Martin Fowler escreveu nesse post em 2003.
Toda dívida gera juros (vide dívida técnica e juros composto) e existem algumas formas de lidar com a dívida. Neste artigo, vou listar algumas delas.
Parking Lot
Reserve uma área no quadro físico com uma quantidade limitada de espaços. Cada nova dívida deve ser registrada em um post-it e colocado em um destes espaços. Quando acabarem os espaços, o time não poderá fazer novas dívidas. O time precisará resolver algum dos itens antes de criar novas dívidas.
Lane para dívidas
Crie uma nova lane no quadro físico do time. Apenas post-its de dívidas técnicas devem caminhar por esta lane. Estimule o time a sempre ter pelo menos um item caminhando nesta lane.
Esta abordagem torna fácil de perceber, visualmente, se o time está trabalhando em suas dívidas técnicas.
Esta forma ajuda a evitar que as dívidas se acumulem, porém o time pode acabar trabalhando em dívidas que não sejam tão valiosas.
Sprint de reforço
Sprint de reforço, ou Hardening Sprint, é uma sprint onde nenhuma feature nova é desenvolvida. O time trabalha apenas em melhorias no software como, por exemplo, refatoração, testes automatizados e melhorias de performance.
O post “Do We Need a Hardening Sprint?”, na Scrum Alliance, aborda um pouco sobre este tópico.
Eu diria que uma sprint de reforço é como usar o 13º pra pagar as dívidas. Você sabe que as dívidas estão lá, mas você espera uma oportunidade e gasta uma boa grana para quitá-las.
Limite de crédito
Imagine que o time tem um cartão de crédito com limite definido. Cada nova dívida técnica é uma compra neste cartão. Sempre que tiver uma oportunidade, “sobrar uma grana”, o time pode quitar uma parte desta dívida, como se adiantasse o valor do cartão de crédito. Se o time extrapolar o limite do cartão de crédito, ele não poderá mais fazer compras. Neste caso, o time precisa pagar o valor mínimo da fatura para voltar a usar o cartão de crédito.
Realizar apenas o pagamento mínimo vai deixar o time eternamente pagando juros, ou seja, para cada nova feature vários ajustes serão necessários, retardando o time.
Assim como no cartão de crédito que precisa ser pago mensalmente, o time pode definir uma periodicidade para zerar a dívida.
Trabalhar com valores em dinheiro ajuda a manter a analogia clara. O time deve definir um valor em dinheiro para cada compra, um valor de limite para o cartão e quantos % do limite é o pagamento mínimo da fatura.
Esta forma, dá ao time flexibilidade para escolher pagar logo algumas das dívidas usando a capacidade que tem disponível e ainda o mantém constantemente preocupado em não estourar o limite, evitando que as dívidas se acumulem.
Conclusão
Fazer dívidas pode ser uma opção para atingir um objetivo, mas é importante manter a saúde financeira. Pagar esta dívida recorrentemente garante juros menores. Mas não acompanhar as dívidas técnicas pode significar quanto vai pagar de juros ou a morte do seu software.
E você, está liquidando suas dívidas técnicas ou vai decretar falência?