Os desafios da Transformação Ágil

Muito se fala em Transformação Ágil. Mas será que as pessoas realmente sabem o que isso significa? O que é necessário para transformar uma organização inteira seguindo uma nova forma de pensar?

Para começar é importante entender que a Transformação Ágil é um completo redesenho do pensamento organizacional. É uma sacudida completa no modelo Taylorista, vigente desde o final do século 19. Taylor e Fayol partiram do princípio que se o objetivo das organizações é crescer continuamente, uma estrutura hierárquica seria necessária para dar corpo e resolver os problemas decorrentes do crescimento. Planejar, organizar, coordenar, comandar e controlar eram as atividades mais importantes dos gestores, segundo Fayol. Esse modelo é fortemente baseado em estruturas militares, que eram por sua vez as estruturas hierárquicas disponíveis para estudo. E por conta disso, hoje em dia, nossas organizações são fortemente baseadas em comando e controle. Padrões! Precisamos de padrões. Parece que a crença é que esse modelo inicialmente desenhado para o ambiente fabril serviria para tudo. Grande engano.

Sal, açúcar, café e ouro já foram sinais de riqueza em tempos passados. Hoje, no século 21, conhecimento é a riqueza maior que há. E conhecimento não pode ser comandado e  controlado. No entanto, conhecimento por ser ampliado e compartilhado, dependendo da forma com que o tratamos.

Para inovar é preciso conhecimento e criatividade, e nenhum deles cresce em solo limitado, controlado ou tolido. Inovação depende de empoderamento: fazer aquilo em que se acredita, experimentando e errando, até se encontrar o caminho certo.

Os desafios da Transformação Ágil 1

As organizações mais inovadoras do mundo tem algo muito importante em comum: são adeptas da cultura Ágil. São defensoras da auto-organização e do empowerment dos times. Mas como elas conseguiram chegar lá?

4 domínios da agilidade

Os desafios da Transformação Ágil 2

Os 4 domínios da agilidade ajudam a entender o que precisa mudar nas organizações para que elas consigam abraçar o mindset ágil e se transformar em ambientes criativos, abertos, que ousam falhar naturalmente como forma de aprender e que buscam sempre a colaboração ao invés do controle excessivo e da padronização fabril.

O domínio de negócios está ligado a como as organizações definem seus objetivos. Priorização, orçamento, direção de negócios e demandas de novos produtos e serviços saem daí.

O domínio cultural define como pensamos e agimos. É o mindset organizacional. Quer entender como é o mindset da sua organização? É fácil! O que acontece quando alguém comete um erro? Pense bem nisso. A cultura é resultado de como agimos e pensamos. Mesmo que isso aconteça de forma automática. Em muitos lugares, errar é quase um crime, passível de punição severa.

O domínio organizacional está relacionado a como a empresa está estruturada. Quantidade de níveis organizacionais, departamentos etc. Estruturas gigantes são como o Titanic: difícil se movimentar rapidamente. Mudar de direção é um processo lento e muitas vezes quando finalmente acontece, já é tarde demais. E olha que o Iceberg nem se mexe!

domínio técnico fala sobre como os times trabalham: padrões, qualidade, conhecimento técnico. Times empoderados são mais criativos, responsivos e eficazes.

Os problemas organizacionais mais recorrentes estão ligados a um ou mais desses domínios. E é aí que entra a tal transformação Ágil.

Transformação Ágil deve envolver a organização como um todo

É importante dizer que não existe agilidade se focarmos apenas em um desses domínios. Muitas organizações falham porque deixam algum deles de lado. É muito comum acreditar que basta ter times ágeis para que toda a organização seja ágil.

Até hoje não entendo o motivo pelo qual as pessoas acham que Ágil é algo que se faz lá com os times de desenvolvimento apenas. Como se só uma pequena parte da organização precisasse se adaptar aos novos tempos. Nas minhas aulas, sempre faço um exercício em que peço aos alunos para que descrevam os maiores problemas que eles enfrentam em suas empresas. Não é surpresa alguma ver que o domínio onde menos aparecem problemas a resolver é justamente o técnico. Até brinco com os desenvolvedores presentes: viu? Não é sua culpa!

Times de alta performance são pequenos, estáveis, duradouros, multifuncionais, autônomos e muitas vezes não respeitam as barreiras que separam os departamentos. A forma como as empresas estão estruturadas impede a criação e manutenção de times assim.

Mais uma vez digo: Transformação Ágil deve envolver a organização como um todo. Desde o RH até a diretoria. Do estagiário até o CEO. E o processo de transformação exige não só a participação de todos, mas também que se mude a forma de trabalhar. É necessário que se faça um redesenho da estrutura organizacional, quebrando silos e resolvendo de vez os males da verticalização exagerada.

Gary Hamel, professor da London Business school e um dos gurus de gestão moderna, afirma que o custo das estruturas organizacionais exageradamente grandes é de 3 trilhões de dólares só no mercado americano. Lá, existe um gestor para cada 4.7 pessoas. Gary afirma que é possível passar de 4.7:1 para 10:1, liberando 12.5 milhões de gestores e gestoras para que esses passem a produzir valor diretamente ao invés de fiscalizar quem o faz.

Nossas organizações se tornaram ambientes complexos demais. Onde se valoriza mais cumprir metas individuais do que o incentivo à troca de conhecimento e colaboração. Viramos ratinhos de laboratório correndo em esteiras que nunca param. Comando e controle na veia. Reporte diário de horas trabalhadas, foco no esforço e não no valor gerado. Somos engrenagens de uma grande máquina, o que aliás já foi objeto de crítica de Charles Chaplin, com o sensacional filme “Tempos Modernos” de 1936.

Organizações Ágeis privilegiam o que há de maior valor hoje em dia: conhecimento. São organizações desenhadas para maximizar o trabalho colaborativo, a partir de experimentos com objetivo de gerar aprendizado, focando no valor de negócio e mantendo sempre a simplicidade ao invés da super valorização do ambiente complexo. Auto-organização e proximidade entre times e pessoas de negócio são alguns dos princípios que guiam essas organizações.

Portanto, transformar uma organização significa repensar estruturas, processos, controles, metas, ambiente físico, bônus e progressão de carreira. Muda tudo. E muda para melhor.

Mas há duas opções disponíveis nesse momento: mudar agora para se obter vantagem competitiva, ou esperar para mudar depois, quando for tarde demais e a empresa estiver na busca desesperada pela sobrevivência, uma vez que o mercado já mudou e sua empresa ficou para trás.

No fundo, a segunda opção já é realidade para muito negócio por aí. 😉

Quer saber mais sobre?

Confira esse vídeo sobre os 4 domínios da Agilidade que pode te ajudar a compreender um pouco mais sobre o tema. E não deixe de acompanhar o nosso blog para saber das novidades.

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Marcos Garrido, Sócio-fundador e Trainer na K21

Sobre o autor(a)

Co-fundador, Consultor na Nower e Trainer na K21

Marcos Garrido, co-fundador da K21, é Certified Enterprise Coach (CEC), Certified Scrum Trainer (CST) e Certified Team Coach (CTC), fazendo parte do seleto grupo no mundo que possuem as três certificações mais importantes da Scrum Alliance. Com grande atuação internacional, possui larga experiência em Transformação Digital e Gestão de Produtos.

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