A K21 vem buscando todos os dias evoluir e melhorar enquanto organização para se tornar um ambiente seguro para todas as pessoas, em todas as suas individualidades e diferenças.
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Queremos uma equipe plural, diversa e que se sinta plenamente à vontade para ser o que se é. Nessa busca por melhoria contínua, encontramos o Bernardo, que vem fazendo um trabalho lindo conosco e nos ajudando nessa transformação.
Convidamos o Bernardo para falar um pouco sobre sua vivência pessoal e profissional enquanto pessoa transmasculina. Confira abaixo seu depoimento acerca do respeito ao nome social.
O respeito integral ao nome social é uma afirmação de que nossas existências são dignas de humanidade
Quando eu resolvi parir o Bernardo confesso que eu não sabia direito o que estava fazendo. E, sendo muito honesto, a Bianca foi a pessoa mais corajosa que eu tive o privilégio de ser e construir.
Instintivamente, não quis medir ou pensar em consequências nesse processo de parir outra identidade. Talvez analisar e maturar consequências tivessem feito com que eu desistisse da gestação, afinal, tudo que viveria em seguida seria muito complicado e doloroso.
Não por mim, mas por viver em um local onde tudo deve ser preenchido com um grande apego às normas, à normalidade e às convenções sociais.
Acreditem, ainda que eu pertença a uma identidade que desviou da norma, há muito o que tratar e melhorar enquanto pessoa. Alecrins dourados não existem, todas as pessoas nascem e aprendem as mesmas estruturas de poder.
E são justamente elas que devemos transformar, tanto em níveis estruturais quanto em nós mesmos, enquanto indivíduos.
Agradeço todos os dias por esse coração que batia pela Bianca — e que agora bate pelo Bernardo —, ter se colocado como prioridade e como única voz para expelir Bernardo ao mundo.
E foi num esquema meio ágil, de fatiar as demandas e ir entregando e melhorando continuamente, sabe?
Depois de algum tempo tendo a coragem de me nomear por um nome estrangeiro e de ficar chateado de não me ver nele, fui aprendendo a ser Bernardo, assim como Bianca também precisou aprender a ser Bianca.
Não existe um conhecimento prévio sobre si mesmo, nos tornamos quem nos tornamos por permitirmos essa existência essencialmente incompleta, essencialmente incoerente e, portanto, complexa por natureza — e, de vez em quando, caótica.
Dentre minhas angústias, a maior delas era morrer e não poder ser enterrado como Bernardo. Esse medo me perseguiu durante 3 longos anos.
Eu perdi as contas de quantas vezes pedi a pessoas próximas que, se algo me acontecesse, brigassem pelo meu direito de ser enterrado como Bernardo.
Em 2015 ainda não existia e nem era possível vislumbrar, ao menos para mim, o uso de nome social na lápide, daí o meu medo.
Morrer e ser enterrado como Bianca não seria vergonha nenhuma, mas certamente esse nome não traduziria quem eu realmente era (e sou).
Seria como ter batalhado muito tempo e ainda assim me despedir com a frustração de uma identidade incompleta. Fui Bianca com muito orgulho, mas sou ainda mais orgulhoso do legado que Bianca deixou ao Bernardo!
Primeira experiência profissional com o uso do nome social
Em 2016 eu vivi o terror de me assumir na empresa em que trabalhava e a infelicidade comum de topar com pessoas que se recusavam a me tratar e reconhecer como Bernardo.
Chorei muito, me senti sozinho, fui à luta com tudo o que tinha e pude contar com a ajuda de pessoas aliadas — também novatas no assunto —, que se dispuseram a estar não do meu lado, mas do lado do meu direito humano de ser Bernardo, ainda que arriscando suas próprias carreiras.
Mesmo diante desse movimento, eu e uma outra pessoa trans éramos as únicas pessoas com um e-mail corporativo que não traziam seus nomes, mas sim as iniciais seguidas dos sobrenomes.
O sábio coração atuou mais uma vez e, na época, considerei e me alegrei genuinamente com a resolução do conflito. Ao menos não precisaria mais ser o dono de um e-mail cujo nome eu tinha escolhido mudar.
Hoje eu sei que as únicas duas pessoas com e-mails diferentes da empresa serem as duas únicas pessoas trans, falava muito sobre a recusa das pessoas cisgênero nos considerarem iguais.
Marcar a diferença, naquele momento, era mais importante do que considerar que não existia nenhum problema em nossos endereços eletrônicos serem assegurados pelo uso do nome social.
Dar tratamento diferente às pessoas trans e travestis, sob a alcunha da burocracia ou sob qualquer outro pretexto, fala muito sobre o que ainda precisamos fazer enquanto sociedade para nos considerarmos pessoas inclusivas e respeitosas.
Bernardo na K21
Quando entrei na K21 e recebi acesso ao e-mail [email protected] sem nenhuma burocracia ou empecilhos, revivi a dor e o sentimento de frustração de ter tido meu direito negado anteriormente.
E tive a certeza absoluta que nenhuma pessoa deve ser tratada com menos humanidade, sob nenhuma circunstância jurídica, moral, pessoal, empresarial ou política.
O meu trabalho na K21 reflete essa luta e resiliência que preciso ter, 24 horas por dia, para ser o Bernardo!
Estou longe de vender perfeição, mas tenho trilhado um projeto antigo em que sentir orgulho de mim é, a um só tempo, uma forma de atuar em conjunto e de não ser considerado um errante, mas apresentar um modo de vida comprometido com a dignidade e a liberdade.
Esse endereço eletrônico de agora é meu emblema, é meu nome, é quem eu escolhi ser e é com ele que renovo, todos os dias, o meu compromisso ético em fazer desse mundo insistentemente melhor, ou, como a gente costuma dizer por aqui, um mundo “continuamente melhor”.
O propósito da K21 é transformar pessoas e organizações ao redor do mundo, e eu estou aqui não só para somar com esse propósito através da diversidade, mas para fincar uma bandeira inegociável.
Intersecionar propósitos onde for possível encontrar, primeiramente, felicidade e um universo inteiro de orgulho em ser transmasculino, em pertencer a pluralidade que busca, em comum, dignidade e humanidade a todas as pessoas, em um planeta sustentável e responsável com seus recursos e todas as formas de vida.
E é precisamente esse o recado que você fornece quando respeita integralmente o direito de alguém usar nome social.