Uma boa retrospectiva para times que estão de saco cheio das retrospectivas de sempre, mas que não gostam de retrospectivas diferentonas.
Desde que Samuca e eu começamos a palestrar sobre o Retrô Poker, um dos cenários mais intrigantes que a gente geralmente apresenta como exemplo é o de um time com 4 desenvolvedores sêniores e um estagiário, sendo que um dos desenvolvedores é novo no time. O desafio principal, além do estagiário estar notadamente isolado e do novo desenvolvedor estar meio perdido, é que o time não se mostra muito aberto a fazer retrospectivas.
Neste cenário é comum encontrar ScrumMasters ou Agile Coaches que empurram goela abaixo dinâmicas em tons lúdicos e energizantes, sem perceber que a única coisa que qualquer atividade que fuja da sobriedade padrão do time vai despertar é um sentimento de “tá bom, posso voltar para o meu trabalho agora?”.
Foi neste contexto que surgiu a retrospectiva “Esquema tático”, ou “Prancheta do Tite” para os mais lúdicos. E este já é um bom gancho para a primeira dica, vinda da experiência de um amigo ao executar esta dinâmica: Se você apresentar a retrospectiva como “Prancheta do Tite” (atualmente o Tite é o técnico da seleção brasileira), não esqueça que você corre o risco da galera ficar limitada ao esquema tático do futebol, quando na verdade essa é só uma analogia. E toda analogia uma hora quebra.
Passo 1: Preparação
Costumo rodar esta retrospectiva em no máximo 30 minutos, em times de até 10 pessoas. Tudo o que você precisa é de um quadro branco e um canetão. Post-its grandes e pequenos também são bem vindos nesta dinâmica.
Se o time não tiver o perfil “nossa, como eu amo retrospectivas”, uma boa dica é não contar que vocês vão rodar uma retro. Só chama o time para a frente do quadro, para um “bate-papo” de vinte ou trinta minutos.
Passo 2: Formação
Peça a cada pessoa do time que posicione seu nome no quadro branco, mantendo mais próximos os nomes de quem trabalha mais próximo no dia-a-dia, e mais distante aqueles que têm menos contato.
É importante que você, enquanto facilitador, deixe que cada membro do time escreva seu próprio nome. Não esqueça que é a formação tática deles, e não a sua formação tática para eles. Facilitadores que escrevem muito ao invés de deixar o time escrever, tendem a gerar menos engajamento. Para saber mais sobre facilitação, aconselho fortemente o nosso treinamento de técnicas ágeis de facilitação.
Neste passo, a formação atual do time, que estava escondida dentro da cada cabeça de cada membro, vai ficar explícita, e a sensação de “precisamos melhorar isso aqui” tende a começar a emergir.
Esta etapa não deve demorar mais do que 5 minutos.
Passo 3: Posicionamento tático
Com os nomes posicionados no quadro, peça para que cada um escreva o projeto, produto, sistema, atividade ou serviço (use o termo mais adequado para o contexto do time) e o posicione-os no quadro seguindo a mesma premissa do passo anterior. Se você está próximo deste projeto (ou atividade, sistema, etc.), posicione-o próximo ao seu nome, se estiver distante, posicione-o mais distante do seu nome, e mais próximo de quem está mais envolvido.
Nesta etapa geralmente começam a ficar explícitos alguns riscos da formação atual do time, como por exemplo 1 pessoa ser a responsável por N projetos críticos, que estão longe de todos os outros membros do time. A tendência neste passo é o principal questionamento proposto por esta retrospectiva começar a emergir: somos mesmo um time?
Passo 4: Ações
A última etapa consiste em, a partir das informações visualmente explícitas no quadro, traçar ações para melhorar o esquema tático. Peça para que o time discuta e rabisque no quadro movimentações que seriam benéficas para o time: Fulano começar a trabalhar mais com Ciclano no Projeto X, por exemplo.
Priorize as ações utilizando Dot Voting, e se for viável, peça para que responsáveis puxem cada uma delas.
Exemplos reais (e um bônus)
A retrospectiva também não é limitada a times que não curtem dinâmicas. Tenho exemplos reais de aplicação em times que não trabalham diretamente com desenvolvimento de software. Já rodei, por exemplo, com um time de uma startup, logo após a reunião estratégica da CEO. Era um time de aproximadamente 10 pessoas, responsáveis pela operação de toda a empresa, e os resultados foram interessantíssimos: A galera que trabalhava na prospecção de clientes percebeu que precisava se aproximar mais de quem estava no atendimento e na operação. \o/
Um amigo também aproveitou a prancheta do Tite para adicionar um terceiro passo antes do desenho das ações, e deixar explícito um problema de silos que o time tinha. Ele pediu para que o time posicionasse no quadro, além dos projetos, também algumas pessoas e áreas externas ao time (como a área de testes ou negócios, por exemplo), e ficou explícito o quanto o time estava mais próximo destas áreas do que de outros membros ou projetos do próprio time. Aliás, este é um sintoma clássico de empresas que tentam adotar o famigerado “Modelo SpotIfy” e “squadificar tudo” de maneira top-down. Esta retrô é, inclusive, um bom jeito de começar a conversar sobre as disfunções causadas por este movimento “squadificador”, mas talvez isso já seja assunto para outro post. Hehe.
Se você curtiu esta retrô, tenho certeza que você vai curtir também o treinamento de Técnicas Ágeis de Facilitação. ;D
Se você já usou a “Prancheta do Tite”, por favor, conta aí nos comentários como foi! Se você adaptou alguma parte, por favor, me conta, vai!
Para mais exemplos reais de aplicação, ou para esclarecer qualquer dúvida, é só me chamar!