Negócios e tecnologia: a realidade do front nas organizações

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Uma organização é um campo de batalha? Quem trabalha com negócios e tecnologia já escutou que é preciso se armar para conflitos e até já deve ter lido “A Arte da Guerra”, do Sun Tzu. Mas ter uma liderança baseada na guerra empresarial pode ser destrutivo a longo prazo. Esta foi a pauta do primeiro episódio do quadro Xadrez Corporativo, do nosso podcast Love The Problem.

Ouça este artigo!

Com o tema “Guerra Empresarial: Conflitos entre negócios e tecnologia”, Carlos Felippe Cardoso (CFC), Co-founder & Strategy Specialist K21 e Lula Rodrigues, Tech & Pedago Management da 42 São Paulo abriram a conversa. Para falar mais sobre esse embate nas organizações, estavam como convidados: Lucila Orsini, Superintendente de Negócios no Banco Carrefour e Daniel Faria, Superintendente de Tecnologia no Banco Carrefour.

Mas o que é Guerra Empresarial?

Imagine uma sala de reunião com vários líderes de times diferentes, cada um como seu próprio objetivo. Invariavelmente, haverá conflito entre essas pessoas e entre os times, já que não estão pensando no melhor para o produto ou para a empresa.

Se um objetivo não é alcançado, ao invés de avaliarem o trabalho como uma equipe com objetivos em comum, começam a procurar culpados.

“Como a gente pode trazer foco, alinhar um objetivo em comum? Tem gestores que preferem o conflito, porque acreditam que, quando o Daniel e a Lucila conflitam, saem boas ideias. Mas a realidade é que, quando você está em conflito, você não está colaborando, você só quer que a sua ideia seja melhor do que a do outro. E aí a gente deixou muita coisa no meio do caminho”.

Daniel Faria, Superintendente de Tecnologia no Banco Carrefour

Segundo ele, deve haver a preocupação de não entrar em modo automático, e o cuidado para não gerar um ambiente de competição ao invés de colaboração, construção e busca pelo mesmo objetivo. Para Lucila, é como se um campo de batalha já estivesse enraizado na cultura das empresas.

“A gente transferiu para as empresas o linguajar de guerra: aliados, war room. Do ponto de vista da mudança de cultura, nada de bom pode sair de um war room. Você entra lá para matar ou morrer.”

Lucila Orsini, Superintendente de Negócios no Banco Carrefour

Ela também acredita que uma liderança tem o poder de ser uma trincheira ou um catalisador desta guerra. Mas como melhorar essa relação?

Negócios e Tecnologia: mudança de cultura para gerar melhorias

Há diversos componentes na melhoria da relação entre Negócios e Tecnologia. Mas, de acordo com a Superintendente, um ponto fundamental é o conflito de objetivos e recursos. 

“Os objetivos são, por natureza, opostos: eu quero entregar a melhor experiência e você quer entregar o mais rápido possível e com custo baixo. É preciso entender o objetivo comum”.

Lucila Orsini, Superintendente de Negócios no Banco Carrefour

Daniel exemplifica outra forma de melhorar essa cultura organizacional: quebrar o modelo de trabalho em fila.

“Quando o SCRUM Guide define que o backlog é responsabilidade do Product Owner, é colocado na cabeça do desenvolvedor “eu fiz o que você pediu”. Ah, o Product Owner não pediu isso. Mas você não viu o que tinha que ser feito? Por que você não propôs? A responsabilidade sobre o produto é de todos.”

Daniel Faria, Superintendente de Tecnologia no Banco Carrefour

Fazendo uma analogia com futebol, ele traz sua opinião sobre o que é preciso modificar: 

“Na vitória a gente nunca está preocupado em melhorar, mas sim em celebrar. No empate, a gente começa a pensar. Na derrota, cada um está procurando um culpado. […] Quem vai ao estádio procura um espetáculo. Será que ganhar de 1 a 0, com o time retrancado, vai continuar trazendo clientes, enchendo o estádio?”

Daniel Faria, Superintendente de Tecnologia no Banco Carrefour

E, apesar de essa mudança de atitude não poder vir apenas da liderança, um bom líder deve prestar atenção em alguns pontos.

“Nós precisamos ser intransigentes em relação a alguns valores. O quanto a gente, como liderança, está sendo permissivo em manter essa cultura no dia a dia?”

Carlos Felippe Cardoso (CFC), Co-founder & Strategy Specialist K21

Como desmistificar a cultura do conflito?

Uma mudança de cultura organizacional não acontecerá da noite para o dia, mas algumas atitudes podem ser tomadas para melhorarmos a relação. Para Lucila, uma comunicação simplificada pode ajudar, fazendo questionamentos no dia a dia, como “O que você quis dizer com isso? Eu não entendi muito bem.”

Daniel Faria dá algumas dicas:

  1. Buscar aliados em relação a mindset e valores: quem está entendendo o que estou propondo? Quem tem a mesma vibe de trabalhar nessa condição onde a gente promove colaboração, buscando performance?
  1. Entender como seus aliados agem e criar uma estratégia junto com eles. “Por exemplo, a Lucila se dá super bem com o CFC, então Lucila, tenta conversar, ‘traz ele para o play’ com a gente. Alinhar comunicação, entender como o outro gosta de ouvir e, o mais importante, entender o motivador, qual o medo dele por trás dessa reação?“

Essas reflexões podem ajudar a parar de procurar os culpados para melhorar o fluxo do trabalho. Aceitar as próprias falhas também é um passo importante para aprender com os erros.

Ações práticas de uma boa liderança para melhorar a relação entre Negócios e Tecnologia

Uma das formas de melhorar a relação entre Negócios e Tecnologia é fugir da gestão por conflito e unificar os objetivos, como foi explicado pelos especialistas.

A partir disso, três ações que podem ser tomadas para alinhar uma equipe multidisciplinar são:

  1. Trocar os KPIs por OKRs: KPIs servem para analisar o desempenho de uma estratégia, um setor, uma ação específica. Já os OKRs são usados para levar a sua empresa até outro ponto, gerando um objetivos comuns para toda a organização.
  1. Normalizar a cultura de Feedbacks: e não só do líder para o liderado, mas sim uma comunicação horizontal, voltada para a melhoria da pessoa como profissional.
  1. Mudar a cultura do conflito de pessoas para o conflito de ideias.

Construir lideranças sólidas, mas sem perpetuar a guerra empresarial pode ser um desafio ainda maior em cenários de trabalho remoto. Líderes de equipes, gerentes de projeto, coaches ágeis e todos aqueles que estão trabalhando online podem contar com nossos especialistas em liderança e inovação nas empresas. Eles orientam sobre como fazer a gestão de times ágeis em ambientes remotos durante o treinamento Management 3.0 Workshop Online. Venha aprender com quem faz!

Sobre o autor(a)

Trainer na K21

Avelino Ferreira é formado e mestre em Ciência da Computação. Teve uma longa trajetória na TI, começando como programador e chegando a gestor de diversos times de criação de produtos digitais. Conheceu e começou a adotar as melhores prática de de Métodos Ágeis em 2008. Desde então, se dedica a auxiliar outras empresas na construção da cultura ágil. Atualmente, é Consultor e Trainer na K21

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